Escritora sem leitores. Publicava para si própria. Um desavisado, certo dia, leu seus contos. Tornou-se fã. Encantou-se mesmo. Até comentava os textos. Pedia mais.
Ela, envaidecida, escrevia para ele. A relação estabeleceu-se. Trocavam mensagens. O texto era o texto. Personagens, ficção e realidade. Tornaram-se próximos, ainda que distantes.
Agora, escrevia sob demanda. Ele ditava os temas. Pedia crônicas, poesias, contos e até bilhetes suicidas poéticos. Ela desenvolvia.
Sentia que havia arranjado um parceiro. Em seu íntimo, estava feliz.
Ofereceu-lhe flores um dia. Ela riu sozinha. Disse ser impossível. Não forneceria informações tão pessoais. Endereço? Não era seguro. Nem pensar! Não ainda.
Ele, então, mandou um brinde. Por e-mail. Ela poderia escolher o que mais gostasse na loja virtual.
Criativo! Cadastrou-se. Escolheu um cinto. Mandou foto agradecendo o presente. Achou graça da coincidência quando recebeu a encomenda. A transportadora tinha o sobrenome dele.
Às dez da manhã foi encontrada morta em seu apartamento. Enforcada com o cinto. Bilhete suicida poético na cabeceira da cama.
Um comentário:
... esse cara sou eu...
Postar um comentário