II
O moço da sombrinha ocupou meus pensamentos por uns bons dias. Maus também, confesso. Diálogos imaginários eram o meu novo passatempo.
Imaginava o que poderia dizer a cada ato meu. Mas ele não dizia nada. Era apenas um moço na chuva desaparecendo no retrovisor.
Isso até aparecer com uma fatia de melancia e dois garfos na barraca de frutas que fica embaixo do prédio em que trabalho.
Sim. Exatamente desse jeito. Colocou a fruta na mesa e empurrou o garfo na minha direção. Dei um pulo da cadeira, tamanho o susto.
- Tem medo de melancia também?
- Não, alergia.
Riu e pediu outra fruta pra mim. Recusei, satisfeita.
- Você é sempre assim, difícil?
- Não, só com gente que come melancia.
Pediu abacaxi. Dei meu telefone na hora. Afinal, gente que come abacaxi após o almoço é, definitivamente, confiável.
Antes que eu pudesse pegar o elevador, uma ligação. Sorri sem motivo. Atendi o número desconhecido dizendo sim para todas as possibilidades de amor que povoavam minha imaginação.
- Não, obrigada, eu não quero um cartão de credito!
Por que, diabos, eles levam tanto tempo pra ligar depois que damos o telefone, hein?
Um comentário:
Justamente para você ter seus diálogos consigo mesma... são as preliminares do primeiro telefonema.
A ligação surte outro efeito depois.
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