I
Eu preciso escrever uma história de amor. Dessas com começo, meio e fim. Aliás, a minha história de amor. Que teve tudo isso e foi linda.
Difícil começar. Talvez pelo dia em que nos conhecemos. Mas isso é tão banal. Todas as histórias começam pelo início. Assim, sem-graça. Assim, banais. A nossa história, que foi a mais bela que houve até hoje, deveria ter um princípio especial. Ao menos, no papel.
Mas não escrevo em papel. E não tenho como retroceder no tempo para apagar os fatos e fazê-los magníficos.
Foi uma chuva. Ou um guarda-chuva. Rolou no chão com o vento. Bateu em meus pés. Ele veio correndo apanhar. Desculpou-se. Ofereceu-se para me levar ao carro protegida da chuva. Tenho medo de sombrinhas, respondi, já encharcada. Isso não é uma sombrinha, é um guarda-chuva, corrigiu-me.
Tenho medo, mesmo assim. De guarda-chuva. De gente carrancuda. De sim e de não. Ser indiscreta ou forçar intimidade. Cachorro preto. Escuro. Ficar louca. Solidão. Fantasmas. Terremotos. Ternos cinza. Dias calmos. Tenho medo.
Muitos medos, observou. E de café? Perguntou sorrindo. Café, eu gosto, respondi rápido ansiando por um convite. Que bom, disse, acabando com as minhas esperanças. Perguntou-me se eu tinha telefone ao me deixar no carro. Respondi-lhe que sim e parti.
É o tipo de coisa que não se faz, sabe? O arrependimento chegou segundos depois. Mas não voltei. Não voltaria. A cena valia mais do que a ligação.
Um comentário:
hhehehehe. Muitos dos seus medos são parecidos com os meus.
Ser indiscreto e forçar intimidade... ficar louco num dia calmo.
bllllluuuurrr
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