Escritas ao sabor de Guinness
numa noite onde esquecer
um grande amor não era um desejo
mas uma necessidade
O fim do noivado fora inesperado. Astrogildo, irredutível, não explicava e não mudava sua decisão. Ela, em desespero, apostou todas as fichas. Se você for jogar hoje, não nos casamos mais! Ele colocou o chapéu, acendeu o cigarro no canto da boca e disse: Você é quem manda, boneca. Piscou pra ela e saiu.
Ela riu. Ele desapareceu. Três meses e nada! Nenhum contato.
Astrogildo não se comunicava. Não respondia cartas, bilhetes, recados. Não atendia telefonemas. Mudo. Completamente mudo.
Saía com os amigos. Isso ela sabia. A rotina conhecida: carteado na sexta, boteco no sábado. Aos domingos, ia à missa com a mãe. Nenhuma pequena! Intrigante.
Era amor demais. Não podia terminar daquele jeito. Dorothea não se conformava. Se ele não arranjava outra, é porque ainda gostava dela.
Dorothea era centrada, mas nos últimos meses não tinha sido ela mesma. Aquele canalha havia lhe virado a cabeça.
Canalha sim, ela pensava. Qualquer homem que promete casamento e depois some é um verdadeiro canalha. Não importa o motivo. Mas ele ia deixar de ser canalha. Ia voltar pra ela, com o plano que havia arquitetado, era batata que ele voltava!
Numa noite fria, saindo do carteado, ouve um grito no beco. Rapaz íntegro que é, corre em socorro da moça. Assusta-se ao ver Dorothea. Ela estende-lhe os braços. Ele hesita. Escuta passos atrás dele. Dorothea sorri. Antes de virar-se, ouve o estouro. Cai nos braços dela.
Astrogildo está no chão, desacordado. Dorothea beija-lhe as pálpebras.
Abre os olhos. O clarão quase lhe cega. Consegue distinguir a cintura de Dorothea. Sente-se atordoado. É dia. Uma enfermeira anda em sua direção. Olha para baixo, vê as rodas. Torna a olhar para Dorothea.
Ela, sem esconder a felicidade, diz:
- Cuidarei de você para sempre, meu amado.
Vira-se para empurrar a cadeira.
Ele abre boca.
As palavras não saem.
Lágrimas rolam as faces dos dois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário