Doce e azulado, assim ele era. De um azul tão claro que parecia fazer carinho em quem o olhava. Transpirava bondade, generosidade e compaixão.
Um dia esse menino tornou-se adulto. E permaneceu azul e doce. Simples e altruísta. Passou, então, a conviver com adultos de outra forma. De igual pra igual, pensava.
Mas o convívio agora era muito diferente do passado. Os adultos não o tratavam da mesma maneira, afinal ele continuara azul quando todos os outros tornaram-se cinza com o passar dos anos.
Aquele azul cintilante, que outrora inspirava calma, passou a irritar os demais. A docilidade os enojava. Eles eram cinza, amargos, ácidos, salgados, picantes. Nunca azuis. Nunca doces.
Sem entender o que acontecia, quis parar de brilhar. Sem sucesso, resolveu evitar o contato com o mundo cinza. Voltou para o castelo. Isolou-se.
Aos poucos, sem contato com qualquer outro ser, sua cor foi mudando. Entendeu, então, como deveria agir para ser aceito.
Hoje, é quase todo cinza, pouquíssimo doce. Mantém apenas uma manchinha azulada, brilhante, que raríssimas vezes deixa ser vista.
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