segunda-feira, 2 de março de 2015

Igor

Eu não gosto de cachorros. Já gostei um dia, mas passou. Na verdade, não tenho muita paciência ou tempo pra esses bichos.

Eles estão sempre à nossa volta. Querem colo, carinho, atenção. Dão trabalho, têm horários, precisam passear. Fazem algazarra quando nos vêem e manha para impedir nossa partida.

Considerando tudo isso, há seis anos atrás, comprei um gato.

Ele trazia a promessa de companhia sem cobranças, independência e até uma certa altivez.

Gato bonito, porte médio, pelagem cinza, olhos alaranjados.

Chamei-o de Igor. Nada original, bem sei. Origem russa, tal qual o Azul Russo que eu queria, mas não encontrei.

Pra ser sincera, não comprei o Igor, troquei-o por um pacote de ração. Achei que era a minha boa ação do ano: adotar um vira-latas.

Além da origem chique, o nome do bichano ainda significa Príncipe da Paz.

Bah! Nada mais distante da realidade do que isso.

Então, no primeiro ano, roeu tudo que podia. Ou melhor, conseguia. Parei de contabilizar as peripécias quando o encontrei com um lençol, recém lavado, no chão da sala.

Sim, sim, subiu no varal e pegou sozinho.

Coisa de filhote, pensei. Assim como as manias de ficar no colo, dormir junto, se jogar no chão de barriga pra cima e miar desesperadamente ao ouvir o barulho do meu carro.

É, ele me espera na porta, me lambe e pede petiscos. Fica em pé, faz cara de fome, come na minha mão.

Enfim, seis anos depois, constato: tenho um cachorro que mia!