quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ando meio desligada...

Cheguei de volta à China (continente) sem a passagem de saída do país e com permissão para ficar só mais um dia. Não lembrei de imprimir.

Na imigração, o paciente mocinho me colocou num box, cheio de guardas em volta, até que eu conseguisse acessar o aplicativo da Companhia aérea.

Notando minha dificuldade, sugeriu que eu acessasse meu email pelo computador do aeroporto. É Gmail, eu disse. Ele sorriu sem graça, respondeu que esse não tinha jeito.

Enfim, o app funcionou, mostrei as minhas informações toda contente. E o número do vôo? Ele indagou. Essa página não carregava.

Cocei a cabeça, olhei pro box e ri. Mais dez minutos sentadinha pra pensar no que fiz.

Mexe pra cá, pra lá, entra num site, em outro e finalmente encontro o tal número. Dei um pulo com o celular na mão e, agora sim, mostrei o que ele queria.

O rapaz riu, devolveu meu passaporte e desejou boa viagem. Só aí que fui sacar que poderia ser presa se não achasse nada.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Xi'an: é ruim, mas é bom II

Hoje dei folga de verdade para os meus pés e paguei fui excursão, dessas com guia e tudo.

Um tremendo saco!

Hora pra comer, forçação de barra pra comprar em lojas caras, poucas pausas para apreciar as paisagens e quase nenhuma pra fumar.

Vi, enfim, os Guerreiros de Terracota, mas me arrependi inúmeras vezes de não ter pedido um áudio guide na entrada do museu. A voz do guia me irritava profundamente.

O ponto alto foi ter conhecido um casal muito simpático da Califórnia. Mexicanos animados e falantes. Mostrei um pouco do meu portunhol e rimos muito.

Viajar só tem dessas coisas. A gente tá tão aberta ao novo que se diverte até nas roubadas.

Xi'an: é ruim, mas é bom

Não andava de bicicleta faz uns 20 anos. Tinha esquecido a sensação maravilhosa do vento no rosto. Então, cansada e com os pés doendo ainda de Beijing, achei que seria perfeito pra percorrer os 14km da muro que cerca a cidade.

Aluguei a bicicleta e marquei bem o local em que deveria devolvê-la. Quase duas horas depois, tinha completado pouco mais de uma volta, mas como o tempo iria terminar, retornei para devolver a bike.
Morrendo de fome e pensando em ter um banquete chinês na praça de alimentação do Shopping ao lado do hotel, desci pelo portão e saí andando sem prestar muita atenção aonde estava.

Bom, foi aí que a jornada começou. Saí pelo portão errado, óbvio. Além disso, claro que fui para o lado errado. Andei mais de meia hora para, então, perceber que não reconhecia absolutamente nada ao meu redor.

Fiz todo o percurso de volta, parei em frente ao portão leste - que, pelos meus cálculos, deveria ser o sul - e tentei rumar para o lugar certo.

Encontrei um parque lindo que fica colado ao tal muro. Tinha um mapa com a indicação das ruas e dos portões, todo escrito em mandarim.

Andei um bom tempo pelo parque até que resolvi tentar pegar uma espécie de táxi. Apontei no meu mapa (incompleto, justifico-me) onde queira ir. O motorista me deixou do outro lado da rua, num ponto de ônibus e me cobrou 5 yuans por isso. Ri sozinha.

Mais uma vez, voltei para o parque. Oito quilômetros, uma rua de artes e duas derrotas depois, achei o hotel.

Não gosto de me perder, porém, isso é tão corriqueiro que aprendi a apreciar o que encontro no caminho enquanto tento me encontrar.

O passeio inusitado foi o melhor do dia.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

East Nanjing Road - Line 2 - ShangHai

Olho para o lado na escada rolante e vejo uma camiseta de um time de futebol da Espanha. Puxo conversa 

- Spanish?
- Yes...
- Please, speak!
- Hola! És española también?
- Brasileña.
- Hahahahahaha... Chino, chino, chino?
- Si...

Risos.
Depois de quatro dias sem falar uma palavra em português essa conversa de um minuto foi a minha salvação. 

Surpresa em... Beijing?

Li tanto sobre as intermináveis negociações com turistas, o trânsito caótico de Pequim e seus taxistas fujões que fiquei desesperada.

Ainda no Brasil, fiz extensa pesquisa sobre o acesso à Grande Muralha. Para todas as outras atrações, usaria o metrô. Mas para essa, precisaria de ajuda, muita ajuda.

Encontrei o nome e o email de um guia local num blog de uma brasileira que mora em Xangai. Indicação confiável, pensei. Mesmo assim, precisei negociar bastante.

Quando cheguei, finalmente, em Pequim, estava me sentindo completamente trouxa. Mais uma roubada, era só o que vinha na minha mente.

Além disso, apareceu uma excursão gratuita à Cidade Proibida, realizada por alunos de História, em parceria com um site de turismo, que precisavam treinar inglês. Por muito pouco não cancelei o tão sonhado passeio.

No dia marcado, acordei quatro horas antes. Ansiosa. Comprei água, café, chips e coloquei tudo na mochila. Às nove horas, lá estava ele: Xiaowei. Inglês perfeito, bem melhor do que o meu, simpático e prestativo.

Levou-me, primeiro, ao lugar turístico, que depois descobri não ser tão turístico assim. Take your time. I'll take a nap, falou ao me deixar no ponto do ônibus que me levaria à Muralha.

Mutianyu. Linda. Impassível.

Duas horas depois, retorno ao estacionamento para partirmos em direção a um ponto menos explorado.

Huanghuangcheng. Levei meia hora para pronunciar de maneira quase correta. Quis desistir mais uma vez quando percebi onde estava me metendo.

Ele me encorajou a subir. Riu do meu medo de altura. Colheu tâmaras no caminho e me explicou sobre a população local.

Enfim, subi. Apavorada, sozinha e, depois,  extasiada.

O lugar ainda não foi aberto a turistas. É necessário alguém que conheça bem o local. Passei duas horas caminhando pela Muralha. Um silêncio incrível. Paz.

Só isso já teria compensado a viagem. Mas ainda almocei num restaurante típico, comendo comida decente, boa e com preço justo.

Voltei dormindo. Xiaowei colocou sua seleção de Bob Dylan pra embalar meu sono.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pirraça

Alta noite já se ia enquanto eu escutava Marisa Monte, pensava na morte do Bezerra e folheava uma revista para olhar as figuras. De repente, o telefone vibrou. Telefones não tocam mais, sabia?

Vibrou eufórico como quem ganha sorteio da TV. Vibrou insistente como Álvaro ao esperar que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta. Vibrou desesperado sem tábua de salvação.

Encantada que fiquei, não atendi. Quem sou eu para interromper um momento desses? Único no Universo.

De lá pra cá, não vibra mais. Dá muxoxo, vez ou outra, só pra mostrar que não morreu.

Quem não tem mais vida sou eu.