sábado, 31 de dezembro de 2011

Fim de Ano

O povo buscando simpatias para amor, dinheiro, emprego, casa nova e eu pra mosquito. De novo empolada. 13 picadas em um pé e mais umas 20 no outro. Mesmo com repelente. Credo! E a alergia? Affe! Cheia de corticóide, Vitamina B12 e a coisa ainda coça.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Jucyscleyde

Jucyscleyde é, por assim dizer, louca de jogar pedra. Imaginação fértil. Não pode ter um pensamento na cabeça que a coisa já se cria sozinha. Jucyscleyde não tem limite.

Certa vez, conheceu um moço. Ele se apaixonou à primeira vista. Ela o rejeitou logo de cara. Jucyscleyde pensa assim: se vem fácil, não presta.

Passaram anos sem se ver. Seguiram as suas vidas e, é claro, se encontraram um bom tempo depois. Dez anos depois, para ser mais precisa.

Jucyscleyde, que andava meio carente, viu um mundo de possibilidades ao seu alcance. Mandava 30 mensagens por dia para o rapaz que, prontamente, respondia aos dengos de Jucyscleyde.

Moravam agora em cidades distantes, mas Armando iria para sua cidade natal em breve. Resolver questões burocráticas, explicou. Sim, Armando explicava tudo para Jucyscleyde. Dava satisfação. Satisfeito.

Enfim, encontraram-se. O que aconteceu não foi diferente do que acontece em qualquer canto do mundo com esses casais que relacionam-se à distância.

No dia seguinte, Jucyscleyde pensa em juras de amor. Imagina o vestido. A cerimônia. Os votos. As filhas. Os netos.

Armando não liga. Não responde às mensagens. Três dias de silêncio.

No quarto dia: Jucí, vem me ver? Estou com saudades! Ela foi mais que depressa. Inventou desculpas para o desaparecimento. Na verdade, nem se preocupou. Também estava com saudades.

Ao acordar, após o fogo do amor se apagar, ressentiu-se do abandono. Descaso, pensou.

Armando não levantou naquele dia. Óleo quente no ouvido. Jucyscleyde havia lido numa revista que era rápido e indolor.

Garota (muito) enxaqueca!

Até reclamar cansa. E hoje, cansei de mim. De reclamar. De nhenhenhem. É a obra, o preço louco do pedreiro, o tempo que as pessoas levam para fazer as coisas e toda a encheção de saco de um ano agitado.

Pra completar, bateram no meu carro. Achei que não tinha amassado muito pelo barulho. Então nem parei para reclamar. Não aguento mais as minhas lamentações.

Eu gosto mesmo é de ser feliz. Leve. Irreverente. Risonha. E, às vezes, palhaça. A intenção da semana é essa: manter o bom humor a qualquer custo. E vai dar certo.

A rádio que toca na minha cabeça sintoniza numa musiquinha fofa. E eu sigo cantando e dançando pelas ruas, apesar de toda a irritação.

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

Tô voltando

Pode ir armando o coreto
E preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando

sábado, 24 de dezembro de 2011

Então é Natal

E eu pensei que era ontem. Mais uma vez o problema do calendário. Da falta de atenção. Da minha loucura? Álcool? Não. A mocinha já disse que sou normal. E carimbou. E mais, não bebo tanto assim.

Confundo os dias. Troco as palavras. Tenho o dom de estar no lugar errado, na hora errada e dizer o quê? A coisa errada, é claro. Mas vivo bem. Vivo assim há tanto tempo. Tinha de me acostumar mesmo.

Então é Natal e o que você fez... diz a música. E provoca reflexões. Fiz muita coisa. E coisa é uma palavra ótima. Serve pra tudo. Então eu fiz essas coisas. E foi um ano bom. Sem arrependimentos.

Conquistas e derrotas. Não na mesma proporção. Muitas lições aprendidas. E uma sensação de missão cumprida. Não A missão. Não ainda. Mas a missão do ano, acredito que sim. Não, não acredito. Sinto.

Final de ano caótico. Do jeito que deve ser. Moro na casa do amigo G., no carro, na casa de alheio, por aí. Solta. Livre. Do jeito que gosto.

O carro coberto de lama até o teto. As roupas espalhadas. O gato mião. O apartamento transformando-se, finalmente, em lar. As pessoas olham e não entendem. Mas é assim. Eu gosto assim...

Natal feliz. Ano feliz. Pessoa feliz.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Navidad

Pra quem teve um papel importante na minha vida esse ano e pra quem eu nem vi. Para aqueles que ajudaram e, principalmente, para os que atrapalharam. Quem me ensina o que eu não devo ser tem meu respeito eterno.

Pra quem foi embora. Para os muitos que voltaram. Pra quem tá de birra agora, mas eu amo muito. Pra quem só briga e, também, pra quem só ri. Vocês fazem minha vida colorida. Trazem o doce e o salgado. Alguns, o azedo e o amargo. Mas, enfim, nunca usei açúcar na limonada suíça ou no café. Adoro todos os sabores desde que sejam autênticos.

Para os dois que arrumaram meus dentinhos e me fizeram sorrir mais. Para aquela que acha que consegue consertar a minha cabeça. E, também, para os que pensam que vão me equilibrar. Além de Feliz Navidad, pra vocês, boa sorte!

Para os que sabem compor, entender, confortar. Para os que acalentam minha alma quando ela chora. E ela chora muito. E grita. E se desespera. E sofre. Sempre em silêncio. Mas vocês conhecem o meu olhar. E sabem discernir todos os momentos. Vocês me sabem!

Pra quem me leu. Me ouviu. Emprestou ombro e fez cara boa. Pra quem fez cara feia também. Para os amigos de sempre. De ontem. De hoje. Para os amigos que estão começando a estrada comigo. E para aqueles que já terminaram.

Para o que acalenta meu corpo quando ele incendeia. Esse que não é parte da minha vida e nunca vai ser. Esse que só aparece em momentos precisos. E tem ação precisa. Porque meu corpo, quando incendeia, precisa de água. Calma. Paciência. Carinho. Cuidados. E, às vezes, distância.

Para todos aqueles que gostam de mim e eu, infelizmente, negligenciei. Para os que eu esqueci. Para os que me esqueceram. Ou fingiram que esqueceram. Porque sentimento só sabe quem tem. Só sabe quem vive. Só entende quem sente.

Para alguém que se foi e dizia: Eu te amo pra caralho e mais um pouquinho ainda! Não é, mãe?

Para aquela mulher com ar doce. Pequena. Nada frágil. Que me ajudou no momento mais difícil da minha vida. Não é, tia Lygia? E para o eterno namorado dela. Que é base. Força. Equilíbrio. E, às vezes, picuinha. Mas, acima de tudo, é amor. Não é, tio Magno?

Pra quem eu amo e não sei dizer. Pra quem me ama e tem o mesmo problema. Ou questão a ser solucionada. E questões são muito pequenas se comparadas ao amor que existe. Não é, tia Bia?

Para a minha família. Minha base. Meu alicerce. Meu apoio.

Feliz Navidad e... desculpas, obrigada, beijos, amor, serenidade, equilíbrio e um axé.
É! Um axé!
Porque axé nunca é demais!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O verdadeiro amor

Pra ele, me guardo. 
Ria de mim, mas estou aqui 
parada, bêbada, pateta e ridícula, 
só porque no meio desse lixo todo 
procuro o verdadeiro amor. 
Cuidado, comigo: um dia encontro.
(Caio Fernando Abreu - Dama da Noite)


Enquanto o grande amor não acontece. Enquanto as horas passam vazias. Enquanto os dias se repetem. Te encontro. 

Na mesma esquina. As mesmas conversas. O mesmo sorriso amarelo. Aquele beijo conhecido. O gosto de sempre. O olhar de sempre. As mãos precisas percorrendo os caminhos invariáveis.

Uma taça de vinho. Outro cigarro. A marca da unha nos ombros. Dedos emaranhados nos cabelos. Uma mordida na nuca. Pernas entrelaçadas.

A reação esperada. O gemido rouco. O grito sufocado. O abraço vazio. O cheiro, o suor, as lágrimas. Tudo revisitado. 

Você está impresso em mim assim como estou impressa em você. Mas isso não é o amor. 

Lascívia. Desejo. Concupiscência. 
Hábito, talvez. 

Enquanto o verdadeiro amor não chega.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Quando eu te conhecer. Quando for o tempo. Quando o inverno chegar. Quando...

Quando isso acontecer, um texto inteiro.
Só pra você.

Até lá, meias palavras.
Meias verdades.

Clarice e Caetano... juntos?

E nesse meio tempo, ou tempo inteiro, a gente vive. Assim como dizia Clarice. A gente vive Apesar de. Apesar do aborrecimento, apesar da tristeza, apesar da discórdia. A gente vive.

Vive e acha tempo, nesse meio tempo ou tempo inteiro, pra ser feliz. Pra rir. Pra curtir. Pra gostar. Pra amar. Pra gozar. Pra se divertir.

E apesar de encontrar uma ou outra pedra no caminho. Apesar de tropeçar vez em quando. Apesar de cair por aí. A gente levanta.

E dá a cara a tapa. E faz tudo de novo.

Porque a gente ouve Caetano.
E acha que nasceu pra brilhar e não pra morrer de fome.

Achamento

Expectativa é algo fantástico, desde que se tenha em mente que ela nasce fadada ao insucesso. Segundo o dicionário é a esperança fundada em promessas, viabilidades ou probabilidades. Quem nasce de uma promessa, nesses dias, vinga? Não vinga!

A expectativa, coitada, é pior do que a esperança. E se você pensa que a esperança é boa, meu bem, me explica o que ela estava fazendo na caixa de Pandora bem juntinho de todas as mazelas do mundo. Não, querido, não se iluda. São companheiras: esperança e expectativa.

Aliás, se você ainda não sabe, te digo já. Formam um trio. Com quem? Com a frustração!

Recado

Ei, menina?
É você sim!
É, menina, olha só...

Eu vim aqui pra te dizer que deixei de ser lagarta. Sério! Sei que isso é novo pra você. Fiquei tanto tempo naquele casulo que você se acostumou. Mas a gente sabia que isso iria acontecer, não é mesmo?

Se dói? Ah, dói muito. É uma dor impossível de se descrever. Dói por dentro. Dói tanto. Até doer por fora. Aí dói tudo!

Bem pior do que a dor é a destruição. Toda minha vida ruiu. A casa. O conforto. Tudo se quebrou. O que era conhecido se esfacelou.

O passado se estraçalhou no exato momento em que ganhei asas.

Elas falham às vezes. Não, não vieram com defeito de fabricação. Não ria! Ainda estou aprendendo a usá-las.

Você...
Você quer voar comigo?

Diz

Diz que me quer. Diz que me espera. Diz que não vive sem mim. Diz que se desespera. Diz que se atropela. Diz que vai morrer.

Ameaça. Xinga. Briga. Grita.

Diz que me ama. Diz que eu sou o seu ar. Diz que não sabe o que aconteceu. Diz que sente minha falta. Diz que ficou louco de vez. Diz!

Reclama. Chora. Se joga no chão.

Diz que dói não saber. Diz que não dorme. Diz que alucina. Diz que não tem prazer em viver.

Copia a canção do Roberto. Ouve música ruim. Lê poesia. Se humilha.

Diz tudo isso e fica olhando.

Enquanto eu vou embora da sua vida.
De vez!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Crise da vida

Estorvar. Perturbar. Desalojar. Incomodar. Chatear. Embaraçar. Envergonhar. Importunar. Irritar. Tolher. Cercear. Molestar. Aborrecer. Desgostar. Cansar.

Crise da Obra

Termino o banheiro e volto pra casa ou reformo tudo?

Crise total. Hoje ele refez a bancada. Ficou melhor. Ele errou, mas eu errei também. Atraso de mais de dois dias. Faço o piso novo ou não? Pinto as paredes? Troco os portais?

O gato tem comido cimento. Vai passar mal. Será que para sozinho ou vai comer até a morte?

Sinto falta do gato.
Sempre sinto falta do gato!

Insensata

As minhas escolhas são as minhas escolhas, não as do mundo. Então não me julgue. Se me acha insensata, afaste-se.

Não quero coro ou companhia. Nem quero esse seu olhar complacente. Afaste-se, já disse.

Quero calma. Ar. Espaço e tempo. Quero a minha liberdade longe da sua voz cerceadora. Quero paz. Silêncio. E vazio.

Não me prenda. Não se iluda. Não me prendo. Não sou prenda. Não sou sua. Sou da rua. Do mundo. De outros tempos.

Venho de longe. De muito tempo à frente. Pra observar. Aprender. Ensinar.

Não se engane. Não te quero. Não te espero.

Ainda assim, te amo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Em obras

O banheiro dos sonhos está indo pro buraco. O nicho ficou desalinhado. A bancada ficou menor do que devia e não cabe a pia. Lembro de minha tia falando da Vó quando fez obra. Derruba essa parede! Estou falando grego? Acho que vou invocar o espírito da Vó. Derruba essa bancada agora e faz de novo! Errou a medida e fez do jeito que quis. Saco!

Amigo G disse que vou passar o Natal com ele. Eu ri. Disse que a obra era rápida. Ele conhece o pedreiro. Separou seis portas de armário pra mim. Falou, ainda, que não iria me tratar como hóspede, já que vou morar por dois meses na casa dele.

A casa está uma bagunça. Até o gato está sujo. E mia. E reclama.

Eu não quero mais brincar de obra.

sábado, 10 de dezembro de 2011

A medida da dor

O sangue ainda escorria pelas paredes quando se levantou e começou a limpar o chão. Dessa vez foi pior. Não perdoou nem a televisão! Cinquenta polegadas de caquinhos estilhaçados no chão. Na rua. Ele deveria entrar em um time de arremesso de coisas ou algo do gênero. E se alguém estivesse passando na rua? Era processo na certa!  

Havia se abaixado. A TV gigante passou por cima da sua cabeça, atingiu o parapeito da janela e, por fim, voou do apartamento. Ainda bem que ele sempre teve péssima pontaria.      

Olhou-se no espelho para conferir o estrago. Briga de homem mesmo. Faltava um dente. O olho iria ficar roxo, preto talvez. Sem grandes estragos. Dessa vez, levou mais do que bateu! Casa revirada. Parecia assalto.

Arrumou o que dava. A empregada termina isso amanhã. Fez curativo na mão. Mordida, vê se pode! Limpou o olho. Não tomou banho. Dormiu na sala. A gente se acerta assim que ele voltar. Ele sempre volta!      

Do outro lado da cidade, um homem leva pontos no rosto, em um hospital decadente. Ao menos o enfermeiro é bonito.       

- O seu plantão termina muito tarde?
- Não, você vai ser meu último paciente.
- Um drink?
- Assim?
- Não tá doendo.
- Tem certeza?
- Se precisar, você cuida de mim.

O enfermeiro sorriu. Passou a mão pelos cabelos. Titubeou um pouco, mas cedeu.

- Pode ser.

Isso vai doer muito mais do que meia-dúzia de pontos no rosto. Muito mais!         

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Nem cinco minutos guardados

Não te pedi muito mais do que cinco minutos. Você negou. Assim como negou atenção, carinho e dedicação durante todo o tempo em que estivemos juntos. Sobrevivi de migalhas de amor. Igual aos pombos da praça que catam farelos de pão no chão. Dia a dia eu catava qualquer resto de sentimento que você jogasse fora.

Um esboço de sorriso. Mesmo que não fosse pra mim. Fantasiava que era. Um beijo soprado. Uma palavra doce.

Mas a gente é feito de carne. De osso. De anseios. De ímpetos de egoísmo e pequenos momentos de compaixão. De intenções. Às vezes, más intenções.

Instinto. A gente é puro instinto. E isso não é bom. Nem mau. É a realidade. É a necessidade de sobrepujar o outro. A necessidade de agradar o outro. É tudo isso, cara!

E, de repente, passa um tempo e você nem se reconhece mais. É o cotidiano que te engole. Num dia você é aquela figura interessante e todos os caras te olham. No outro, você está beijando os pés de um babaca que esquece teu aniversário e justifica dizendo que datas são importantes apenas para os professores de história.

E você olha pra trás e tenta entender como chegou nesse ponto. E não consegue sair do limbo. Porque se acostumou ao limo. É sórdido, mas real. É rastejar na lama mantendo seu saco de suprimentos amarrado ao corpo sem saber Como é!*

Então você culpa o outro. Mas a culpa está refletida no espelho. Quem erra? O dominador ou o dominado? O opressor ou o oprimido?

Aí você fecha os olhos e repete pra si mesmo. Baixinho. Deitado em sua cama. O mantra do Mestre. Que seja doce!** E acredita que será. Crê piamente que amanhã será um dia melhor. Porque cresceu escutando que dias melhores virão e que o amanhã à Deus pertence. E mãe, você sabe, não mente.

Um dia as migalhas ficam escassas. Nesse dia, você percebe que não sobrevive mais sem elas. Para, então, de esperar que elas caiam pelo chão e começa a implorar por elas. Num completo estado de mendicância afetiva.

Em total desespero, em estado de abandono, beirando a inanição, brada num ato de rebeldia. Pede cinco minutos. Apenas cinco minutos. Recebe, neste momento, o silêncio final. De um alguém que não possui nem a hombridade de te dizer tchau. Mas que você daria a vida para ter novamente. Mesmo que fosse por cinco minutos.

* Samuel Beckett
** Os dragões não conhecem o paraíso - Caio Fernando Abreu

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Palavras

Tem umas palavras que são verdadeiramente especiais. Para mim, escapulir é uma delas. Adoro! Dei uma escapulida. É o máximo. Bem melhor do que, simplesmente, fugi. Gosto da mesma forma de igualmente. Acho linda. Mas nunca a uso. Não consigo. Ouço-a diariamente no elevador, mas sempre sou eu a desejar as coisas aos outros. Eles me olham e dizem: igualmente.

Procrastinar. Essa, além de bela, tem uma sonoridade incrível e um significado xxxxx. Gosto de palavras. Definitivamente. Sinto-me bem no mundo delas, das ideias, dos significados.

Um bom jogo de palavras encanta. Tudo se inicia aí. Nos dizeres. Aliás, o início é belíssimo. As primeiras. Ainda erradas. Ainda balbuciadas. Os primeiros tropeços e enroscos nos erres, nos eles. Depois, os primeiros desafios. Paralelepípedo. Liquidificador.

Aprendi parcimônia aos nove. Me vi tão adulta por isso. Usava-a o tempo inteiro. Repetia a palavra. Nunca internalizei seu significado. Ensinei à minha afilhada. Ela se diverte.

- Madrinha, é pra comer com parcimônia!

Ah! Essas palavras! Às vezes, as danadinhas me fogem. É. As palavras escapolem. Então uso xxxxx no lugar. Até que resolvam voltar para casa.

Desconcertada

e consertando...

o banheiro, o carro, as roupas, os sapatos, a vida, os pneuzinhos, a cabeça.

De lá pra cá. Cheia de dúvidas. Dívidas.
Com vontade de mudar.

Sem saber por onde começar.


Uma parede de cimento queimado
parece um excelente começo.

Dormir na casa do amigo G é uma boa solução. Momentânea. Mas boa.

Sinto falta do gato.
Moro, na verdade, no carro.
Se tiver uma garagem, fico.

Penso em cruzetas, portais, pisos, revestimentos e acabamentos.
Enquanto o ano acaba.

Não é comôdo. 
Interessante, talvez.
Diferente ou diverso.

O prazo é curto.
Mas sinto falta.
Sinto falta da minha casa.

Amigo G arruma a própria casa.
Cansado da própria reforma.
Ri das minhas ideias.
Diz que mau gosto é uma questão cultural.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Você pensa que é fácil?

A ideia surgiu de uma conversa. Pra dizer a verdade, foi inspirada em uma ação similar. Tá, tudo bem! Foi copiada. No sentido, mas não na integralidade. Pensei naquilo por mais de uma semana.

Sim, sinto falta de companhia. Às vezes, fico carente. Mas não é coisa grave que necessite de alguém o tempo todo. Um contato esporádico pode resolver isso. Isso e a questão física, é claro! Essa é a pior.

Poderia fazer entrevistas. Ou um leilão. Não, leilão lembra bailão que lembra peão que lembra música sertaneja. Perco o foco. Licitação, leilão, não. Nenhum ão! Muita formalidade. Um site na internet talvez. É mais descontraído, casual... Casual! Essa é a palavra.

Casual: adj. Que depende do acaso; fortuito; ocasional.

Fortuito é um luxo! Devaneio de novo e me perco nas palavras. Voltando à ideia inicial. Sim, decidi. Vou fazer! A forma não será rígida. Traço um perfil, decoro um questionário e aplico quando tiver interesse. Assim, no meio da conversa, com intuito de passar despercebido. Quando chegar em casa faço o placar e pronto, escolho o que quero. Fácil!

Foi o que pensei.

- O que você gosta de fazer?
- Ah... Gosto de sair, mas também curto ficar em casa. Bebo de vez em quando, cozinho, saio com a galera pra balada. 
- Você tem muitos amigos?
- Faço o tipo popular, saca?
- Hmm.. acho que sei.
- Tudo me diverte, menas pessoas chatas, sabe? Gente que tá sempre insatisfeita, reclamando. Tipo mimimi. Isso eu não topo.

Saca já estava difícil, mas menas? Bah! Menas, nem o Lula, companheiro! Menas, não dá. Não é preconceito. É crivo! Parti, então, para uma abordagem mais direta. No meu ponto de vista, é óbvio!

- Não é que eu tenha medo de relacionamento ou compromisso. Só acho que não é o momento, entende?
- Claro. 
- Então fico só. De tempos em tempos aparece uma ou outra pessoa. Coisa casual.
- Pra tirar o atraso, né?
- O quê?
- Olha, gata, que tal pularmos esse nhenhenhem do jantar e irmos direto lá pra casa?

Não era exatamente o que eu estava esperando. Não sou muito exigente, mas isso foi tosco. Rude. E depois? Me joga na parede e me dá umas bofetadas? Ah, assim não quero. Bruto, só no sentido "não refinado". Mal-educado, nem pensar!

Mudei a tática. Gênero: romântico. Perfil: princesa. Mulher fresquinha perde. Vestido florido, arranjo no cabelo (escovado, é claro), sapatinho de boneca. Mais tons de rosa em uma só pessoa do que na casa da Barbie inteira. Creperia. Suquinho e salada. Sugestão dele. Acatada com boa vontade de Amélia.

- Você não gosta de fazer as unhas?
- Err.. Não tive tempo essa semana.
- A sobrancelha também não, né?
- Não. Marquei salão para amanhã.
- Qual salão você frequenta?
- Fica naquele Shopping perto do meu trabalho.
- A-DO-RO o cabelereiro de lá!!! Ele é um gênio da tesoura!
- É... (amiga)

Definitivamente é melhor começar a distância. A primeira conversa, agora, é por e-mail. Regra estabelecida! Nada de encontros às escuras. Chega de enrascadas. 

Tentei, por fim, um site de relacionamentos. Existem aos montes. É possível enunciar os atributos desejados, listar suas principais características e escolher aquilo que você pensa que combina.

Usei imagem fidedigna. Fui discreta, mas sincera. Quando supus ter encontrado o par compatível, a surpresa final!

- Olha, Dona, vi que você se interessou por mim e já que vamos nos encontrar preciso te dizer uma coisa… pra beijar e dormir de conchinha é mais caro, tá?

E foi assim, meninas, que eu virei lésbica!