terça-feira, 25 de setembro de 2012

Certas dietas são simples. É só cortar açúcar, frituras, massas, molhos, bebidas alcoólicas, pães, biscoitos... e os pulsos.

Voltando para a reeducação alimentar. Ainda na fase da rebeldia. Ideia fixa: Big Tasty. Desejo secreto: Acarajé. Por que, meu Deus, eu não penso em alface? Odeio alface. Bacon me faz feliz.
 
Depois de 15 maravilhosos dias voltei pra dieta, academia, privação, restrições e blábláblá.

Esse projeto delícia tá de lascar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

- Ooooi. Te dei feliz aniversário? Ah, pra você também não? Então é que... O que eu estava falando mesmo?

Sofro de esquecimento crônico. Esqueço datas, acontecimentos e, pasmem, pessoas. Sim, pessoas e toda a história vivida com elas. Deveria ser objeto de estudo. Juro!

Já perdi tantos voos por tantos motivos que nem me aborreço mais. Confundi data de viagem, reportaram-me como desaparecida no Caribe. Fui pra aeroporto sem levar identidade querendo embarcar para a Argentina. Passaporte? Também não. Nada. Nem carteira, dinheiro, cartões.

Ah, teve a mala também. Segunda vez em Buenos Aires, agora não passo vergonha, pensei. Que nada. Comprando bilhete de táxi, o moço pergunta: quantos volumes? E, de repente começa a rir da minha cara de desespero ao perceber que havia deixado a mala na esteira e saído do desembarque.

E na Amazônia? É, na floresta mesmo. Levar dinheiro pra quê? Óbvio que iria encontrar um caixa eletrônico do Banco do Brasil a cada quatro seringueiras.

Pode parecer, mas não é próprio de aeroportos e viagens. Fiz, uma vez, minha mãe atravessar a cidade e me levar a uma locadora de veículos. Quando a mocinha pediu os documentos... Surpresa! Nada de carteira de motorista.

Tem, ainda, uma história estranhíssima de uma doação de sangue. Tentativa vã de fazer caridade. Depois de brigar com meia dúzia de atendentes do hemocentro que - inabilmente - não localizavam a pessoa pra quem eu deveria doar, alguém me liga pra dizer que eu estava no lugar errado.

E, por aí vai. Mas o mais esquisito é que tudo isso é restrito à vida pessoal. Sempre.
Objeto de estudo. Eu disse!

P.S: Esqueci de contar como esqueço das pessoas. Fica pra próxima, tá?
Hormônios são e sempre serão um mistério pra mim.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fizeram uma nova calçada. Não pisei. Não achei justo pisar em alguém que acabou de nascer. Não piso em ninguém. Nunca pisei. Acho. Não é justo. Tenho esse senso de justiça arraigado em mim desde que me entendo por gente. Se é que entendo o que é gente.

O senso de justiça é humanitário. Serve para as agruras das massas. Num confronto? Umbiguismo! Quem entende? Nem eu. Contrapondo pontos de vista. Quem, realmente, entende?


Já escreveram tanto sobre o não saber que é até ridículo desperdiçar o tempo com isso. Mas mesmo com tanta literatura, trash ou não, continuamos não sabendo. E não saber não é triste, não é deprimente, é irritante!


Realidade

Você é linda. Especial. Inteligente. Interessante. Um metro e oitenta. Loira. Olhos azuis. Simpática? Muito! Sabe conversar. Se entrega. Se joga. Vive intensamente. Parece-me tão feliz. Mas, gatos? Por que gatos?

- Nunca fui bem tratada por gente!
No ritmo de Hava Nagila e numa vibe etílica-alcóolatra-louca a rádio que toca na minha cabeça, hoje, travou numa música estranha: Champa, eu tomo champaaaa, adoro Champa. Cham-pa! Cham-pa!  Pode? Faltou algum remédio! É certo que sim.
Economizando o bolso e gastando o fígado: Champa!

Tostines

Será que ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais ou sou preguiçosa e superficial?
Vida repleta de compromissos e vazia de sentido.

Seca como a seca

Segue o seco sem sacar que o caminho é seco 
 sem sacar que o espinho é seco
sem sacar que seco é o Ser Sol
Sem sacar que algum espinho seco secará
E a água que sacar será um tiro seco
E secará o seu destino

Ilusões.

Não faço nada. Ninguém faz. E nesse não-fazer-nada-fazendo-de-conta-que-faço é só tempo, espaço e cansaço. Esgarçando o método. Repetindo a ideia. Desistindo a cada recomeço.

Relutante, espero que Deus ex machina venha livrar-me do tédio. Da pouca disposição. Das correntes pesadas que fixam meus pés ao chão e me impedem de ir em frente.

Assim, sem caminhar, volto-me para o que já se foi. E lá está você. Longe. Perdido. Parado. Esperando Deus ex machina te salvar.

Te vendo assim, tão desolado, dá até uma vontade de te querer de novo. Pouca. Não vinga. Volto-me para o meu caminho. A minha inércia.

Onde erramos?

Onde foi que deixei cair esse vaso que, hoje, vaza toda a água? E, quebrado, impede a manutenção da vida. Quando foi que me tornei esse vaso que nada faz além de vazar?

Pra onde foi a certeza de uma vida cheia de possibilidades? Quando foi que me tornei oca, frívola, indiferente?

As maçãs murcharam no quintal antes de caírem do pé. Nem os pássaros quiseram. Perderam o viço.

A natureza desbota ao meu redor. Também as pessoas. E tudo seca. E morre. E eu morro em vida junto com o mundo seco.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Hoje

Meio feia. Meio burra. Um pouco gorda. Totalmente sem-graça. Cheia, cheia, cheia de hormônios!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Controle-se

Não é má vontade nem mau humor. Não sou a garota-enxaqueca de 2012 e nem ando por aí com uma nuvem negra em cima da minha cabeça.

Gosto de atenção, carinho, cuidados e preocupação. Adoro mimos. Juro! Sou delicada e muito, muito, muito sensível.

Mas trabalho, malho, faço fotografia, teatro, MBA, literatura chinfrim, visitas familiares, atividades religiosas e, às vezes, caridade.

Então, vamos lá, 38 mensagens em um só dia? Fala sério! É humanamente impossível de responder.

Doce tortura

Tomar vinho tinto no calor do deserto é para os fortes.
Brasília, 450º C, na sombra!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mensagem

But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened and that we were nothing
And I don't even need your love
But you treat me like a stranger and that feels so rough
(Gotye)

Ia responder. Desisti. Até escrevi. Refleti. Apaguei.

Não é que você não mereça resposta, sabe? Merece, acredito. Mas não minha. Da vida. Confio na Lei do Retorno. Acho que é por aí.

Perdeu o timing até para desculpas esfarrapadas.

Não te quero mal.
Aliás, nem te quero.

Faltou dignidade. Hombridade. Sinceridade. E vários outros "dade" que você nem deve saber os significados.

Não vou perder meu tempo te dando lição de moral quando eu fui amoral. Contrariei meus instintos e olha só o que aconteceu!

Não vou te mandar me esquecer porque você já esqueceu. Essa frase da Clara Averbuck parece ser a mais perfeita de todas nesse momento.

No mais, ainda citando a Clara: Devolve a minha bola, meus brinquedos, meus livros, meus discos e minha pulseira de dadinhos que eu esqueci na sua casa da última vez, antes de a Pangea rachar. Ainda bem que essa foi a última vez que eu tinha pra te dar!
E o meu jardim da vida
Ressecou, morreu...

Mentiras

Eu menti quando disse que não me importava com você. Menti deslavadamente quando afirmei que não te amava. E daí pra frente eu não parei mais de mentir.

Fingi ter esquecido como nos conhecemos. Simulei não saber como foi o nosso primeiro beijo. Neguei lembrar a primeira vez em que fizemos amor. Menti ao dizer que não lembrava do seu pedido de casamento.

A sua expressão atônita tentando me fazer recordar e eu aparentando indiferença a todos os seus atos.

Depois que você quis ir embora menti, dissimulei, disfarcei, escondi, mascarei. Menti, inclusive para o juiz, quando aleguei legítima defesa.

Inveja

Eu tenho inveja da vizinha. E não é pouca, não! Sento-me à mesa, na sala, com um cálice de vinho e a observo pela janela. Ela lava e estende roupas.

Eu programo a máquina para não centrifugar. Protelando, o máximo que posso, o momento em que terei de tirar as roupas do varal, dobrá-las e, então, estender aquelas que acabaram de ser lavadas. Eu tenho inveja da vizinha. Ela não parece ter preguiça.

Eu tenho inveja do vizinho. Ele cozinha todos os dias. Observo-o enquanto escrevo no escuro de sala de jantar. A janela é a minha televisão. Ele faz comida, senta à mesa, janta e depois ainda arruma a cozinha.

Eu peço comida por telefone. Troco jantar por lanche e, até mesmo, por pão líquido. Eu tenho inveja do vizinho. Ele, também, parece não ter preguiça.

Eu tenho inveja do gato do casal de vizinhos. Ele passa o dia na janela. Não trabalha. Não sai de casa. Mia quando está com fome. Ganha carinhos e afagos quando quer.

Ele é um poço de preguiça, assim como eu. Mas ao contrário de mim, não é obrigado a fazer absolutamente nada. Eu tenho muita inveja do gato do casal de vizinhos.
Só mais um ato. Só um e nada mais. Então acaba. A cortina cai. O escuro predomina. Aplausos. Mais e mais aplausos. Então o silêncio. E, verdadeiramente, o fim. Só mais um ato.

O espetáculo da vida em seus últimos momentos.


Curtinha

A curiosidade matou o gato. A mãe, a tia, os irmãos, o pai e, até, a avó do gato.

Por quê? Quer morrer também?

sábado, 8 de setembro de 2012

Ambiguidade

Algumas vezes a gente se sente idiota, outras a gente realmente é. Mas tem essas vezes, também, que nos fazem de idiota. Independentemente da origem da idiotice, se própria ou atribuída, essas vezes rendem boas histórias. Todas as vezes.

Exagerado

Jogado aos teu pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
(Cazuza)

Não venha com esse seu olhar condescendente de quem me viu cair diversas vezes, me recolheu e cuidou. Não venha com esse texto repetitivo dizer eu te disse, eu te disse, eu te disse. Não venha me consolar com palavras doces.

Não venha. Não toque. Não olhe.

Não quero afago. Não quero beijo. Não quero colo.

Sofrer e purgar a dor. Exacerbar o que não existe. Dilacerar a alma. Rasgar o peito. Isso é o que eu quero.

Transformar em mar o que nasceu e morreu pingo. Tempestade em copo d'água. É disso que eu gosto.

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa)

As melhores palavras vem das gotas. De sangue ou de vinho, tanto faz. Cortantes. Lancinantes. Pungentes. A dor entorpece tanto quanto o álcool e traz à superfície o que há de mais puro no ser: a  verdade.

Engana-se, imensamente, aquele que diz que só fez porque estava bêbado. Perdoa-se, usualmente, aquele que fez por estar sofrendo.

Tira de mim a angústia. Leva de mim o sofrer. Pra quê o penar, se tantas penas já tive? O que aprender com dor que só faz doer?

Padeço, mais uma vez. Embriago-me outras tantas. Entre tropeços e quedas. Cicatrizes e feridas abertas.

Marcho vagarosa e continuamente.

Abster-me? Jamais!


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Fragmentos


I

Eu gostava daquele tempo em que escrevíamos um para o outro. Achava poético. Tenho uma queda por cartas. Talvez por não ter recebido muitas na vida. A gente sempre gosta daquilo que é mais difícil de conseguir, não é mesmo? O jogo da conquista permeia por todas as áreas.

Não durmo direito desde sábado. Ontem fiquei direto. Quero dizer, hoje! Ah, já nem sei mais. O fato é que são mais de 24 horas acordada e a minha cabeça não está funcionando muito bem.

A privação do sono da beleza faz com que eu fique mais lerda do que de costume, carente e faminta. Preciso de café, mesmo depois de dois energéticos. Preciso de conchinha. E não tem. Preciso mesmo é de um Big Tasty.

Você já reparou como a minha vida é feita de excessos? Pouco provável. A sua é assim? Ou você é uma pessoa mais comedida? Ah! Ontem teve evento. Foi tão interessante. Teve entrega. Até eu falei, acredita?

Lembrei de outra coisa!!! Ficava arrasada quando você respondia meus e-mails enormes com uma só palavra.

Bom, o assunto é a carta do dia. Então, aí vai.

Abrir-se ao novo é importante!

Este momento é propício para que você abra seu coração para o conhecimento de pessoas novas que surgirão, revelando novas possibilidades afetivas. Isso não significa necessariamente que você tenha que abdicar do velho em sua existência, nem que tenha que cair na farra de uma forma excessiva, mas que talvez seja necessário que você atente para o fato de que curtir com outras pessoas pode oferecer uma perspectiva nova, que até mesmo melhora suas relações antigas. Isso não implica em obrigatoriamente fazer sexo ou namorar outras pessoas, mas no mínimo sair com outras figuras, conversar com gente que gosta de você (até mesmo apenas amigos) e ter uma melhor perspectiva de si através do olhar dos outros. Converse com as pessoas, ouça o que elas têm a lhe dizer, permita-se perceber como uma pessoa sedutora e querida. Ainda que você não faça nada, não deixa de ser uma experiência boa para o seu ego.

Gostei!

II

Não comentarei a sua resposta!

Fiquei curiosa sobre a carta. Já tirou?

Às vezes eu queria ser mais como você e menos como eu. Dando uma de irmão mais novo: tudo que ele faz dá certo! Dando uma de Marisa Monte: eu faço tudo pela metade.

Sinto saudades de você. Quero ir pra sua concha, mas talvez não seja o momento. Agora é o seu tempo de trabalhar em trezentos projetos feito um louco e criar e produzir e acontecer. Se precisar de mim, estou disponível. Não é todo dia que tenho compromisso de meia-noite às seis. Então, dá pra marcar!

Adoro a Berta, porém ainda penso que ela deveria ter morrido. Seria mais dramático. Gosto de dramas. Melodramas. E qualquer coisa que faça chorar.

Continuo implicada com os ternos ambulantes. Não consigo ver pessoas dentro deles. Apenas arquétipos.

Um vazio infinito se aproxima de mim. Falta paixão. Aí vem a inércia. Claro! Sou movida a paixões e se elas não acontecem, procrastino a vida. Aguardando um novo instante de encantamento.

E, por fim, descobri mais uma imperfeição, mas não vou escrever sobre ela agora. Aliás, talvez não escreva sobre ela. Nunca.

Essa desendoidadora de gente ainda vai me deixar louca.

Conta mais sobre você?
beijos,

III

Um dia é da caça e o outro é de quem? Da puta que pariu, isso sim! Desculpe-me. Não deveria ter saído da cama hoje. Não deveria um monte de outras coisas, mas fiz também. E foi uma sequência sem fim de pequenos desastres.

Febre, garganta arranhando e dores pelo corpo. Ainda era madrugada. Por que não aprendemos a interpretar os presságios, como faziam os antigos? Insisti. Fiz-me aguerrida (odeio ênclise, juro!) Por fim, pensando neste exato momento, fui apenas tola.

Passei na gráfica de manhã cedo. Peguei a caixa de livros. Burro de carga. Ninguém para levar até o carro. Reunião até meio-dia. Louca pra ver se tinha dado certo. Viajei nos números. Usei as frases mágicas. Conhece?

- Podemos averiguar melhor, é claro.
- Faremos um plano de ação para corrigir a situação.
- Entregarei amanhã, sem falta!

Existem várias outras. Preguiça. Três eram suficientes. E pertinentes. Não ria de mim! Você também tem seus dias...

Ah, sim... o livro. A capa ficou perfeita. Te mostrei, né? Já o miolo, o recheio... Que situação!!!

Cheguei às 19h, tomei dois uísques de uma vez só. Um pra curar o cansaço e o outro pra combater a timidez. Fiz certinho? O bistrô estava lotado. Circulei e distribuí sorrisos. Sentei onde indicaram.

O primeiro que veio até mim era um desconhecido. Arrisco-me a dizer que era um transeunte desavisado atraído pela bebida grátis. Deve ter comprado o livro por compaixão.

Bom, perguntei o nome, abri e já ia começando a escrever quando notei que aquela dedicatória IMPRESSA não era minha.

Maldita hora em que resolvi te escutar e escolher a gráfica mais barata.
Maldita! Maldita! Maldita!

P.S.: Nunca mais conversarei sobre isso. Assunto encerrado. Responda-me com o seu horóscopo da semana, se quiser.

IV

Um mês não é tanto tempo assim, vai... Você merecia O Silêncio Eterno. Pense bem! E não adianta mandar a definição de livre arbítrio do Houaiss. Amigo deve aparecer com soluções nas horas de dúvidas. Assunto encerrado, ok?

Por falar em amigo, lembra do Biscoito? Assumiu, acredita?

Não quero ouvir: eu te disse, eu te disse, eu te disse. Já passamos dos trinta, viu!
(você muito mais do que eu)

Assumiu bem assumido mesmo. Mas não é bem isso que eu quero te contar. Fez uma festa à fantasia pra comunicar todo mundo. Fui de Cruela. Não encontrei nenhum dálmata. Tomamos todas. Fiquei sabendo que a coisa rolou até amanhecer. Parecia anos 80 ou 70, sei lá. Seis horas da manhã e aquele monte de bêbados na piscina.

Nem precisa perguntar nada! Fui embora de carona com a Sofia, às duas, tá!

Aí, um mês depois, descobriu que ia ser pai. Agora quer voltar atrás. Casar com a menina na igreja e tudo. Disse que a declaração era uma pegadinha, só pra testar se os amigos o conheciam mesmo.

O pessoal fingiu acreditar. Achou graça. Fez piada.
Ele ri sem-graça.

Eu acho triste.
O que você acha?

IV.2 (gentileza ler antes de IV)

Ah! Antes que você diga que começo o assunto pelo meio, vou explicar a história do Biscoito. Aliás, do apelido dele.

A mãe do Biscoito é europeia (nem adianta perguntar de onde). O pai, a irmã e ele são brasileiros, mas se acham a “nata do primeiro mundo”. Ele até diz que é europeu também, mas nunca conseguiu nada. Passaporte, cidadania, nada!

Pior... nunca saiu do Brasil. Nunca, nunca, nunca viajou de avião!
Um dia, depois de ouvir trocentas piadas com a sua suposta cidadania europeia, saiu com essa:

- Gato que nasce dentro do forno é biscoito?

Fala sério! O cara nasceu em Quixeramobim, veio pra cá de ônibus, mal fala português corretamente e ainda quer tirar onda?

Virou Biscoito!

V

Besteira sua confundir meu e-mail - completamente - mexeriqueiro com ataque pessoal.

1º - Não sou preconceituosa;
2º - Você não é o único homossexual do mundo que tem filho;
3º - Não falei de nordestinos;
4º - Não generalizei absolutamente nada;
5º - Não depreciei a imagem de Quixeramobim e, muito menos, a dos Quixeramobinenses.

Se você tem problemas em relação a sua história de vida e até hoje não resolveu é melhor mudar de desendoidador de gente. Parece que o seu não é muito bom.

Cheguei em casa louca pra te contar sobre a farra gastronômica que fiz sexta-feira passada. Perdi a vontade.

Passar bem!

V.2 (se não tiver lido o V, apaga. E apaga esse também. Sem abrir, de preferência)

Desculpa! Não era pra ser assim. Não foi pra isso que eu comecei a te escrever. Não era essa a intenção. Juro! Vamos parar de brigar? Por favor?

Sei que sou implicante, mas tenho ternura dentro de mim. É que ela fica escondida, bem lá no fundo. É como procurar uma florzinha no saco das cobras e lagartos.

Não existe essa expressão, né? Eu sei. Achei a imagem divertida.

beijos,

VI

Então...

A terapeuta disse a mesma coisa que você. Disse que fujo dos temas importantes e me perco em banalidades. Voltamos, portanto, ao início. Voltamos à estranheza que a vida dos comuns me causa.

Eles andam, conversam e até pensam, eu acredito. Eu não me conecto. Não entendo. Não me insiro. Não sustento. Não me misturo. Sinto-me alheia o tempo inteiro. Representando um papel. Uma personagem. Uma mera figurante. Só existo quando estou só.

Você também se sente desse jeito? Será que existe mais gente que passa por isso?

Ela - a terapeuta - falou também que o nosso vínculo me faz mal. E que me torna ainda mais introvertida. Não sei se é verdade. Prometi não te escrever mais. Mas se não escrevo, penso. Imagino, a cada situação, o que você responderia. Qual seria sua análise. Seu conselho. Direcionamento.

E, no fim da noite, sozinha em meu quarto, não resisto. Volto a escrever. As cartas diminuem a angústia. Suas respostas me acalentam, ao menos no momento em que chegam. Mesmo quando brigamos. Nunca tive alguém tão íntimo. Parece que você faz parte de mim.

"Gosto e preciso de ti, Mas quero logo explicar, Não gosto porque preciso. Preciso sim, por gostar."
(Mário Lago)

A citação pode ser considerada uma declaração de amor. Assim, pode-se dizer que sei expressar sentimentos. Não sou tão fria, tão alheia, tão indiferente quanto pensam. Sei me relacionar, apenas não faço questão. Tenho você, não é verdade?

VII

Responde, por favor.
Responde!

Eu não concordo com a terapeuta, juro. Continuo indo lá porque a minha família me obriga. Escreve alguma coisa. Diz que...

Diz qualquer coisa, vai...

Suspeitava que se te contasse a visão dela você sumiria, mas temia que fosse verdade. Acho que é uma espécie de premonição. Sinto quando algo errado está para acontecer.

Nesse tempo de silêncio, relembrei todas as nossas conversas. Refleti. Entendi que não devo ser tão exigente comigo e nem ter expectativas em relação aos outros. Minhas decepções estão sempre relacionadas a uma ou à outra. Exigência e Expectativa. Assim, com letra maiúscula, pra dar medo mesmo.

Sinto sua falta. Sabia que você é o mais próximo que eu tenho de uma relação real nos últimos 5 anos? A terapeuta indicou um médico. Psiquiatra. Remédios. Não entendi porquê. Tinha certeza que teria alta na sessão que ela sugeriu isso. Minhas premonições só funcionam com coisas ruins. É incrível.

Mas chega de falar da terapeuta. Quero saber de você. O que tem feito. Onde tem andado. E do juízo que você faz de mim!

Sinto-me vazia sem suas palavras.
Não vou desistir fácil.

Volta.
Responde.
Por favor.

VIII

Tenho feito tantas coisas diferentes que acabei esquecendo de te escrever. Enfim, parei de implicar com a terapeuta. Ela tem umas boas ideias. Devo confessar que até a indicação do psiquiatra veio a calhar. Estou mais disposta, mais alegre, menos reclusa.

Fiz amigos, acredita? Não podemos sair juntos, pois nos conhecemos na sala de espera do psiquiatra. Ele proíbe. Mas nos dias de consulta, chego mais cedo. Ou bem cedo mesmo. Outro dia fui às 8h. Saí pra almoçar 12:30 e voltei com um sanduíche 15 minutos depois. Minha consulta era às 17h.

Não, não ganhei uma mania de números. Apenas gosto das coisas bem explicadinhas. E, sim, continuo respondendo tudo por você, antes que você diga qualquer coisa. Essa sim, é uma mania.

Ainda sinto sua falta. Ainda desejo seus conselhos. Ainda me lembro de você quase diariamente.

Eles dizem que vai passar. Resigno-me a esperar. Digo que explica, mas não justifica.

Choro. Calo. Entendo.

Entendo, agora, que você não existe. E nunca existiu. Entendo que te criei num momento que precisava de muito apoio. Entendo que você não é nada além dos meus desejos projetados e personificados numa figura protetora. Entendo tudo isso. Entendo, até, que você nunca vai ler essa carta. Mas acho digno te explicar tudo o que aconteceu. Serve - eu acho - pra você não me criar em busca de apoio se ficar triste como eu fui um dia.

Só não entendo porque dói tanto me separar de você. Ficar aqui nesse mundo real sozinha, enquanto na ficção tenho suas palavras acalentadoras. Espero entender. Um dia.

Beijos,

Confissões

Eu bebo demais!

É isso...

Confissões

Ouvi dizer por aí que existe gente que tem pensamentos catastróficos. Funciona mais ou menos assim: quando está passando por qualquer situação corriqueira, imagina logo um destastre.

Se está em um elevador, ele cai. No avião, explosão. No carro, acidente grave. E por aí vai.

Nunca tive imaginação para isso. Mas para pensamentos ridículos, sou a personificação da criatividade. Certeza!

Concebo atos estrambólicos num piscar de olhos na minha mente. E sou, sempre, a protagonista. Aquela que se expõe. Merecedora eterna do escárnio alheio.

Talvez pela mecânica desconhecida da profecia auto-realizável alguns desses pensamentos materializam-se.

Exemplos?
Não!
Já confessei demais...

Confissões

Eu sou feita de um material que já se extinguiu. Se você não me entende, não conhece e nem procura aprender, quem perde é você.

Adoro Caetano, principalmente, quando ele diz Me larga, não enche, você não entende nada e eu não vou te fazer entender... 

Seu eu lhe incomodo, afaste-se. Essa não deve ser a primeira vez que você ouve isso e, se insistir, não será última.

Eu jamais gostei de você.

E hoje é o dia...

Internacional de Reclamar do Alheio!

Esse alheio que não respeita fila, bloqueia passagem no trânsito, grita ao telefone no elevador, atende mal e pensa que está fazendo favor, quer levar vantagem em tudo, interrompe quando outro está falando, mente, ludibria, enrola, esconde, engana.

Indigne-se! Reclame! Impeça-os!

Mas, por favor, não se torne um deles. O "velho ditado", neste caso, não é válido. Se não pode vencê-los, não se junte à eles. Continue tentando. Adira (adoro palavras horríveis) à Campanha pelo Respeito.

Diga NÃO à falta de educação!