terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As pessoas-formiga

São só dois passos para cair no abismo.

Vertigem.

As pessoas-formiga vagueiam sem saber onde ir. Olho de cima, com meu olhar de Deus-Todo-Poderoso, como se soubesse da vida. Como se tivesse certezas além da morte. Olho além do horizonte.

Sem dor. Sem grandes dramas. Só o tédio a me rodear. Nele me perco. Até não saber nada. Até desaparecer.

As pessoas-formiga dormem. Aguardam um novo dia. As pessoas-formiga acordam, trabalham, comem e dormem de novo.

As pessoas-formiga vivem? Não. Arrastam-se pelos dias enquanto a vida acontece sem que elas percebam.

As pessoas-formiga conhecem as leis e as obedecem. As pessoas-formiga criam as regras. Mas nunca, nunca mesmo, as desrespeitam. As pessoas-formiga tem objetivos definidos e não descansam antes de os alcançarem.

As pessoas-formiga não ultrapassam limites.

As pessoas-formiga comem sem sentir fome. Dormem sem sentir sono. Vivem sem sentirem-se vivas. E morrem sem deixar marcas. Desprezam as sensações. Valorizam a realidade. As pessoas-formiga são práticas e concretas.

- O que é abstrato?
Pergunta a pessoa-formiga.

Silêncio.
Não há resposta.

As pessoas-formiga desconhecem o vazio. Não entendem as dinâmicas complexas da vida. As pessoas-formiga não têm anseios. Não devaneiam. Não se desesperam. E não são tragadas por um mar de inquietações.

Só as pessoas-formiga são felizes.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Teardrop

:.(
O site de relacionamentos diz:
- 428 pessoas que querem lhe conhecer não combinam com seus critérios.
Eu:
- Sorry!
Peguei a bolsa joguei as chaves dentro, óculos no rosto, botas de trilha. Um semana no meio do mato. É disso que eu preciso. Tanque cheio, GPS, roupas no porta-malas. Uma semana isolada do mundo. Ótimo. Deixei as contas pagas. Na última página da agenda, a lista de providências. Aprendi que é melhor prevenir.

Fugi de você. Fugi do mundo. Fugi de mim. No frio, na solidão, quando escutava só o barulho dos dentes batendo, pensei em você. Em tudo que eu sempre quis te dizer. Tão efêmero. Tão irreal. Não tenho nada pra dizer. Voltei em paz. Livre. Voltei pra mim.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mais uma de amor

Revelação

São quase seis, disse, logo após conferir o relógio pela terceira vez. Fez menção de se levantar. Impedido por um par de pernas compridas entrelaçadas em sua cintura, atirou-se novamente na cama. Não ofereceu resistência.

- Encore une fois!

Jogou os cabelos, riu, olhou de soslaio. Tudo isso em apenas um segundo. No exato segundo em que ele se esqueceu da vida, das contas, do dia a dia, da mulher, dos filhos.

- Assim você acaba com a minha vida.
- Torno mais divertida.
- Um dia apareço com minhas malas na porta da sua casa.
- Pra se despedir? Vai viajar pra onde?
- Você se acha muito engraçada, não é mesmo? Gostaria de ver a situação inversa.
- Não veria nunca.
- Por quê?
- Não traio!
- O quê?
- Princípios, querido.
- Eu não...
- Fica quietinho, vai. Deixa eu te fazer um carinho.

Inversão

- Te amo, sabia?
- Por algum motivo específico ou gratuitamente?
- Sempre na defensiva...
- Gratuitamente é verdadeiramente uma palavra feia. Gosto do final. Sufixo, não é? Mente. Parece reverberar. Infinitamente, paulatinamente, derrepentemente.
- Isso não existe.
- Eu sei. Só pensei que seria engraçado dizer derrepentemente para um escritor.
- Sou contista.
- Não é a mesma coisa?
- Dois anos juntos e você ainda não sabe o que eu faço! Não presta atenção em nada do que eu digo?
- Claro que sim. As palavras reverberam internamente na minha mente.
- E se perdem.
- Às vezes.
- E você admite?
- Elas se perdem. Eu me perco. Nos seus olhos, no seu corpo, na sua boca, nas suas mãos, no momento.
- É só isso que a gente tem: momentos.
- Uma coleção de momentos felizes. É... acho que te amo também.

Declaração

- Você vem?
- Pirou? Na sua casa?
- Tô sozinho.
- E o que os vizinhos vão dizer?
- Que o coroa do 208 mal se separou e já arranjou uma gata.
- Você não fez isso!
- Vem, meu bem...
- Vou!

Repetição

- Querida, vou chegar mais tarde hoje. Tenho um happy-hour com o pessoal do trabalho.
- ...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Aniversário

Deusa Bastet

Representa o poder benéfico dos raios do sol; é uma das esposas de Rá, a divindade dos gatos selvagens, com muita agilidade e vigor. As pessoas que nasceram sob sua proteção são bondosas, humanitárias, leais e muito cordiais e gostam de trabalhar em favor dos mais fracos. São independentes como os gatos, gostam de carinho mas mantêm-se muito distantes, são geralmente alegre e divertidos, gostam de brincar e têm aptidão para a carreira artística. Devem controlar a rebeldia.
Tô ocupada. Do tipo: muito!
Volto mais tarde...
(acho)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Mais plágio!

Quanto mais eu conheço as pessoas, mais eu gosto dos animais...
(Daniel de Carvalho Luz)


Eu também!
(Carolina Vianna)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

Coisa clichê mesmo é essa de um dia após o outro. Mas o que mais irrita no clichê é que ele simplesmente é o que é e acontece.

Então o clichê se materializa na sua vida. Aí você para e pensa: Porra! Eu conheço isso. E é assim. Acontece!

Então a carência sumiu. Antes (até) dos dez dia de horror prometidos pelo médico louco. E veio a bonança. Bem-estar total.

O médico diz que procuro pelo em ovo. Mas como não fazer isso? São quinze dias de inferno e trinta de paraíso. Ok, a proporção não é ruim, mas a transição é péssima.

Durmo abóbora e acordo Cinderela?
É bom, eu sei.
Deveria agradecer, sei disso também, mas...

Sou racional, entende?

sábado, 14 de janeiro de 2012

é, em busca de verve perdida. palavras soltas. desconexas. solidão e felicidade - às vezes - andam juntas. outras não. assim como o urso bipolar. ódio profundo do velho. agradecimento mínimo porque vai passar. falta o gato. falta a casa. o que sobra?

Intimidades

Amigo G. não me deixa beber antes de meio-dia. diz que é feio. mas depois da primeira, busca cervejas pra mim na geladeira.

Amigo G. só toma vinho. diz que é pra não aumentar a barriga. eu continuo embarrigando sem me preocupar. torturador volta na próxima semana e engato novamente no saudável mundo dos exercícios.

Amigo G. tem academia em casa. a gente janta coisas gordas olhando para os aparelhos. e planeja a semana da malhação que nunca chega.

Amigo G. dorme muito. acorda cedo. é taciturno às vezes. mas sempre adorável. persigo o Amigo G. pela casa. ele foge.

Amigo G. sabe que estou carente. ri. conhece o médico. entende os remédios. também está estranho. não surta. espera.

Amigo G. é mais paciente do que eu. em todos os sentidos.

Amigo G. me deu abrigo. vez ou outra implica comigo. resolveu viajar.

Continuo me perguntando. como vou ficar.
sem o Amigo G.?

Ainda em ritmo de plágio

cortando os pulsos mentalmente. lentamente. vendo o sangue escorrer. desistindo de tudo. mudando a obra. voltando atrás. curtindo a carência produzida artificialmente por remédios homeopáticos. xingando até a terceira geração do médico.

tendo ideias. falando. falando. falando. compensando as dores inventadas com comida. alternando conforto com doces e álcool. aborrecendo o amigo G. com dúvidas estúpidas.

revisitando o passado. passando a limpo. bebendo de dia. procurando móveis para uma casa que ainda não existe. arrumando fotos do alheio.

procrastinando os estudos. rindo e chorando ao mesmo tempo. sentindo saudades do que não existe. vivendo a indolência. buscando a rima e a inocência.

desatando nós. me livrando de amarras. sendo arco-íris no céu. ouvindo cantos líricos. procurando a verve.

amando as coisas & usando as pessoas.

plagiando. plagiando. plagiando. jurando secretamente amor eterno. fingindo querer. tentando não esquecer. matando aos poucos sem sofrer. pulando de galho em galho.

imaginando vida simples. criando complicações. idealizando situações. respirando fantasias. cantarolando pela rua.

tão efêmero.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mood

Chuva, frio, tempo cinza, casa cinza, gato cinza. E aquela velha e boa preguicinha das coisas. Impaciência e cansaço.

Mas, dizem, isso também vai passar.

Filme light e brigadeiro parecem a melhor opção para o entardecer. Nada de vinho ou cerveja para a senhorita hoje! Diz o meu grilo falante mental. Acho que vou obedecer.

Alarme falso!

Até que não está ficando tão ruim. Apenas cinza!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Atualizando

O senso estético fugiu. A casa muito engraçada que não tem chão nem nada está virando o samba do crioulo doido. Isso porque as coisas fora de casa são todas da mesma cor, mas quando chegam em seu destino, transformam-se. Então percebo que existem 458 variações de cinza claro. E nada combina com nada. Eu quero um abajur vermelho. Um tapete roxo. Um aparador verde. E uma mesa lateral amarela. Assim vai parecer proposital.

Emburrada

O melhor de morar na casa do amigo G. é o amigo G. E ele vai embora. Como ficar na casa do amigo G. sem o amigo G.?

diário gerúndio x

plagiando descaradamente. chorando no canto da sala. adiando o inevitável. sofrendo antecipadamente. querendo desistir. esperando uma mudança. criando uma esperança. querendo a explicação que não virá. ouvindo clementina.  fingindo. dormindo. morrendo.

Plagiado daqui-> diário gerúndio 6

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Só pra constar...

continuo em obras, tentando escrever a monografia, trabalho pra fazer pra complementar nota, devendo as fotos e o álbum do casamento mais legal da face da Terra, cuidando do gato quando dá, estorvando o amigo G., fugindo de todos os compromissos, trocando almoços por passeios em lojas de construção, em crise com as cores-materiais-definições, querendo um tempo, só um tempinho - juro que não é muito - pra mim.

Receita de Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Revolta

Quando eu crescer eu quero ser pequena de novo. Eu não quero crescer. Eu não quero mentir. Eu não quero tanta coisa. O grande problema é que eu já cresci e agora eu quero encolher. Eu preciso encolher.

Eu não quero ser louca. Eu não quero ser assim! As pessoas conversam. Elas falam. E falam. E falam. As pessoas falam demais e não dizem nada. Eu não sei me comunicar com essas pessoas.

Eu fico aqui, parada, olhando, como se fosse idiota, presa dentro da minha mente. Penso em dizer alguma coisa e o momento passa.

Tento, desesperadamente, sair dessa prisão. E não consigo. Quase me sufoca. Dói. Tento romper as barreiras. E cansa. Meus pensamentos. Sempre eles. A prisão de hoje. De ontem. De sempre. Da eternidade.

Enfermidade, eu deveria dizer. Porque isso só pode ser doença. "Mariana, já fez isso?" "Mariana, e aquilo?" Eles perguntam. "Não sei, não quero, não vou!" Penso. Sim, senhor, senhora, madame, cavalheiro, mundo! Respondo. Pra quê? Pra conviver! Porque disseram que deveria ser assim. E eu acreditei.

O sofrimento nunca está na ação. Sofrimento é reação. Desde que foi inventado. Não percebe? Quem age comanda o mundo. Nós, passivos, apenas obedecemos. E sofremos.

É assim desde que me entendo por gente. E ser gente, às vezes, é um saco. A sociedade está falida. Não existem mais valores reais.

Existe só a máscara impregnada de valores morais que esses indivíduos da sociedade pregam na cara antes de sair de casa. E mostram na rua, no trabalho. Mas a máscara não é rosto. A máscara não é personalidade. E cai ao chegar em casa novamente.

Eu não quero ser uma máscara. Preciso encolher. Preciso encolher rapidamente. Posso parecer louca ou desesperada. Mas eu te vejo. E você não me vê. Não vê aqui dentro. Daqui de dentro eu vejo o mundo. E ele é sujo. Posso ter pedido pra vir nesse mundo, mas me esqueci o porquê. E desisti.

Quero encolher até virar átomo de novo.

Quero desaparecer.

As escolhas podem ser desgastantes

A gente tem de ser firme, ter ética, paciência. A gente tem que acreditar que existe um sentido maior nessa coisa toda. Não falo de Deus ou qualquer religião. Não discuto isso. Mas a gente precisa viver melhor. De maneira mais simples. Sem tanta confusão, dor, miséria, desespero. A gente deve ver mais alegria no cotidiano. A gente tem que se contentar mais. Ter menos expectativas em relação ao outro. A gente deve se bastar só. E curtir. E celebrar a vida.

Receita: substituir "a gente" por "eu".

Eu estou tentando. E não é fácil.
Mas também não é tão difícil assim.