segunda-feira, 8 de junho de 2015

Morar só...

Tem vantagens e desvantagens, é óbvio. Como qualquer outra coisa na vida. Ao meu ver, em geral, é bem divertido.

Mas tem algo que me incomoda sobremaneira. Juro!

Não é a falta de companhia ou de conversa. Tenho carência disso sim, afinal não sou uma ilha. Porém, não é o principal.

Também não são os potes quase impossíveis de abrir, as lâmpadas que queimam mês-sim-mês-não e nem as baratas voadoras.

O que me faz falta de verdade é alguém para lavar minhas costas. Até hoje não me adaptei ao escovão esquisito que insiste em mergulhar de ponta e se esborrachar no chão toda vez que tento usá-lo.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O meu romance, a nossa história

Se eu fosse boa com palavras, iria escrever um texto bem grandão pra contar o quanto você é legal. Queria dizer o tanto que você me faz feliz. Mas não assim, com uma simples frase.

Ia falar do dia em que atolamos naquela estrada de terra, caindo uma chuva torrencial, completamente perdidos no caminho pra fazenda do seu tio.

Eu dirigia e você dava as direções, lembra? Você morreu de rir quando descobriu que eu confundia direita com esquerda.

Saiu e se molhou todo só pra buscar aquela florzinha meio murcha pra mim, enquanto eu chorava porque o carro não queria sair do lugar.

Acho que esse texto ia acabar virando um livro. Não ia poder deixar de fora o dia em que nos conhecemos. Aniversário da minha melhor amiga no bar de karaoke. A pior performance da minha vida. Cantar Wando... Ai, que idéia!

Você achou tão brega que não resistiu e foi falar comigo. Eu queria virar avestruz. Não sabia que o local não estava reservado só para a festa.

Ia ter um capítulo especial para as festas chiques. Ou melhor, para o nosso jeitinho de pagar mico juntos e quase estragar comemorações alheias.

Começaria pelo casamento da sua prima. Você caracterizado de Gomez e eu de Mortícia Addams no altar. Ela foi gentil em selecionar uma foto com a gente, dentre as mil e quinhentas que colocou no álbum.

Até hoje não sei porque pensamos que seria uma festa a fantasia. Ela escolheu o dia 31 de outubro por causa do feriado de novembro pra parentada de longe poder ir. Lembrando agora, parece óbvio.

E a decoração dominó nos quinze anos da Talita? Parecia cena de comédia pastelão. Meu salto ficou preso no tapete e você, todo delicado, conseguiu me soltar com o seu sapato.

Não teriam percebido nada se logo depois você não tivesse desequilibrado e caído em cima do arranjo de flores. Aliás, se os arranjos não estivessem enfileirados, ninguém notaria o estrago.

Mas trinta postes com vasinhos quebrando-se em sequência foi demais. Ficamos sem convites pro Natal e Ano Novo por três anos. A Talita queria até escolher outra madrinha.

Ah! Mais para o meio, quando os leitores já se sentissem envolvidos com a trama, contaria como foi o pedido de casamento com todos os detalhes possíveis.

Descreveria aquele anel perfeito que você escolheu. O meu nervosismo na boate quando você se ajoelhou no meio da pista de dança.

Talvez omitisse a trilha sonora. Nunca te disse isso, mas não gosto de Elymar Santos. Prefiro Amado Batista.

Deixaria um espaço em branco pra você expressar a sua fúria ao saber que esqueci o anelzinho na pia do banheiro do Shopping duas semanas depois.

E logo em seguida me gabaria da façanha de ganhar um anel novo, numa mesa de pôquer, blefando, quando você fugiu do meu all in.

O grande conflito seria representado pela noite em que saí de casa. Uma briga boba, porém com consequências sérias.

Mala na mão. Lágrimas nos olhos. Anel em cima do criado-mudo. Som de porta batendo.

Não sei como o livro terminaria, mas iria ler um pouquinho dele todos os dias pra você.

E, se você acordasse, se voltasse a respirar, se abrisse os olhos e lembrasse de mim, juro que te diria SIM outra vez e nunca mais te deixaria.