sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Espanto

Foi extremamente educado. Mostrou-me todos os produtos da loja tomando o cuidado de explicar, detalhadamente, como cada um funcionava. Ofereceu-me condições comerciais diferenciadas. Parcelamento, desconto e brinde. Mas não conseguiu disfarçar a cara de espanto quando lhe perguntei onde ficava o provador.
- Não existe isso em Sex Shop, senhor?

terça-feira, 21 de maio de 2013

A antiga Blogosfera

Num tempo distante in a galaxy far, far away, tive um blog. Outro blog, digo. Cheio de firulas, pseudônimos, pessoas X, Y e Z.

Escrevia sob pseudônimo e o anonimato rendeu-me, além de algumas dores de cabeças, boas amizades na época. Uma, inclusive, perdura até os dias atuais. Mitológica, poderia dizer.

De vez em quando lembro-me do universo paralelo em que vivíamos e me pergunto: por onde andam? ainda escrevem? cometeram suicídio-virtual-coletivo?

Saudades do Editor e de suas críticas sempre ácidas, mas bem humoradas. Vontade de saber se alguém ainda come pão-com-mantega-na-chapa e, é claro, continua preferindo a manteiga aviação. E os gatos? O que aconteceu com os gatos de Cam Seslaf? Ou seria Mac Falses?

Enfim, Arnaldo Antunes foi perfeito ao dizer que

O            que

(se)           foi

é           (s)ido.

, mas esqueceu de explicar o que fazer com o que ficou.

Reminiscência: s.f. Recordação do passado: o que se mantém na memória.
Recordação vaga e quase apagada.
Resíduo ou parte fragmentada de alguma coisa que já não existe mais.

(Etm. do latim: remuniscentia)

Coerência

Querendo saber qual é a p%$&* do critério utilizado para fazer a playlist nesse site de músicas que insisto em utilizar. Misturam Negritude Júnior com Raul Seixas, Capital Inicial, Caetano, Fábio Jr e ainda conseguem incluir Renascer Praise.

Nada contra qualquer um desses.
Só não é a mesma vibe, entende?

Passado

Pensando no que se foi. Não, melhor. Pensando que o que se foi deveria ter ido mesmo. Mas não é porque já se foi e deveria ter ido que não deixou saudade. Então, pensar é permitido, sofrer não.

Passado é pra passar. Se não fosse, chamava-se ficado. Ou presente que, além de permanecer no momento, é regalo. Gosto mais de ficado. Soa melhor em mim.

- Quem é aquela pessoa?
- Ah, é alguém do meu ficado.
- Oi??
- É... apareceu de repente e ficou.

O passado pode ser belo e trazer boas recordações. O ficado é eterno.

É possível, ainda, ser passado e ficado ao mesmo tempo. Passou de um jeito, ficou de outro. Acontece muito na minha vida.

E aquilo que a gente sabe bem lá no fundo que vai continuar? Ou quer muito que continue?  Continuado? Não. Permanecente... é isso. Olha que bonito!

Não importa onde. Se na realidade, sensação ou imaginação. Segundo um mini-sábio, isso é apenas uma questão de memória. Afinal, se a memória é boa, lembramos até do que não aconteceu.

Não pode ser permanente, pois essa palavra remete a algo estático. Permanecente imprime mais continuidade do que o tão conhecido "pra sempre".

Foram felizes permanecentes. Lindo, dinâmico poético!

Tudo junto e misturado, como dizem por aí.
Hoje celebro meu passado, meu ficado e meu permanecente.

Mais do Alheio

Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto

(Quase sem querer - Legião Urbana)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Do alheio

Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

(Codinome Beija-Flor - Cazuza)

Bem hermético

OK, eu sou isso que só você entende. Enfim, concordei. Agora, por favor, me explica?

Perdida em definições

Então eu sou a pessoa mais interessante com quem você cruzou nos últimos dez anos, não é? Gostaria de dizer:  - Sinto muito em lhe informar, mas a sua vida é (no mínimo) morna!

Falsa modéstia! Eu sou realmente interessante. Muito, aliás.

Multifacetada, diriam. Nada fácil. Divertida, às vezes. Depressiva também. Nunca simples. Cheia de nuances. Cores. Dores e amores. Rimando dor com amor.

Óbvia.
Mas quem não é?

Pessoa caleidoscópica, se é que caleidoscópico existe.

Tentando me definir, defino os outros. Eles são sempre o que eu não sou. Significo o contrário de tudo. Se sou boa, sou ruim. Quando sou doce, amargo até o fim.

E tentando me definir, não defino nada.
Porque nada é definitivo.
Ou é?

Eu, por mim mesma

Insegura. Juro! Sou humana. Acreditem, por favor!

Olhar misterioso? Personalidade forte? Balela!

Não escondo nada. Você é que não tem interesse em descobrir.

Desconfio de tudo. Tenho medo. Sou monte de cacos colados.

Sei ressurgir, sei renascer. Mas não faço sem sofrer.

Minha alma tem osteoporose. A cada esbarrão, vai um pedaço.

Coração também, coitado, segue todo esfacelado. Remendado.

E você aí, com medo de mim...

Quem entende?


Autorretrato

Vulnerável, sensível e, às vezes, louca. Gostaria de dizer meio louca, mas loucura é coisa que não tem meio termo. E se é pra ensandecer, melhor fazer benfeito.

Depois disso, pedir piedade. Piedade pra essa gente careta e covarde. 

Para ser grande, sê inteiro. Conselho de Pessoa. Quem sou eu para discordar? Reles lagartinha com sonhos de borboleta. Ainda sem asas, presa no casulo. Cheia de amarras, vícios, defeitos e devaneios.

Im-per-fei-ta! Sim, isso que sou. Água e óleo me representam. Juntos. Nunca misturados. Não me misturo nem comigo mesma. Não dou liga. Sou pura contradição.

Dura, fria, analítica e muito complexa. É o que vêem.

Será?

Doce, doce, doce... Repito. Há quem acredite. Então, para esses, reservo o melhor de mim. Sou cereja.

Há, também, quem não acredite. Esses são ignorados, pois tempo é algo precioso demais para gastar com quem não dá confiança à essência.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Hermético

Domingo eu vou ser feliz. Comer feijoada. Nadar em piscina alheia. Nesse dia vou fazer planos de outra vida. Dormir por aí.

Antes de tudo isso, acordarei cedo, colocarei uma roupa bem bonita e irei a igreja. Aquela da missa em espanhol. Vou olhar as velhinhas e seus véus chiquérrimos. Agradecer a Deus por ser saudável e pela alegria anunciada.

As mazelas serão esquecidas. Também as pirraças e os achaques. Nada se interporá entre mim e a boa ventura.

Domingo, estaremos eu e minha plenitude a gozar a vida.

Amor platônico

Eu gostei mais de você quando você se foi. Achei coisa digna, a sua partida. Corajosa. A desistência, li por aí, é um ato de bravura.

A partida é bela. Pra mim. Sempre bela. Talvez por ser triste. A tristeza me encanta. Você saiu, partiu, sumiu. Fiquei, então, encantada com isso.

O encantamento alastrou-se, incluiu você e virou amor. Ouvi, um dia, que toda forma de amor vale a pena. Escolhi Platão.

Amor fundamentado no seu ato virtuoso de ir embora com graça. Mas sem gracejos.

Amor de mãe só mãe entende!

- Meu filho, arruma seu quarto, arranja um emprego, toma jeito nessa vida! Não dá pra ficar o dia inteiro em casa sem fazer nada! Já cresceu e ainda não sabe o que quer ser na vida??? Assim não dá!!!

- É que eu ando tão triste, mãe. E as coisas não estão…

- Ô meu filho, vem cá… Você está comendo bem? É alguma garota? Te falaram alguma coisa que você não gostou? Você quer que a mamãe faça alguma coisa pra você? Deixa eu te dar um carinho…

domingo, 5 de maio de 2013

As minhas viagens e as viagens que elas me causam

É desordenado. Caótico. Mas não muda. Portanto, é rotina. Faço a mala às pressas e chego no lugar sem saber o que fazer, onde ir, o que ver. Aí, vem o anjo-da-boa-viagem e me abençoa.

Buenos Aires, Peroba, Pirenópolis, Nova Iorque, Aruba, Maragogi, São Paulo, Curaçao, Goiânia, Florença, Roma e, agora, Santiago.

Cheguei com uma lista do que comer e, também, do que não comer lá. Isso e uma mala onde nada combinava com nada e que, se não fosse minha, seria estranha.

Depois de seis horas na cidade já tinha visitado museus sem dinheiro (porque eu nunca lembro de levar dinheiro), almoçado e tomava chopp com três novos amigos.

Descrever o que aconteceu entre o primeiro mega-copo-litrão-de-cerveja e a despedida no bar que virou o quintal de casa (The Clinic) é difícil. Quiça impossível!

Foram dias de diversão, muitas gargalhadas, todo o tipo de mico (o que inclui tentar entrar dentro de um armário de louças) e muita cumplicidade.

Teve, ainda, ondas de mau-humor coletivo, mas bem resolvidas com grandes pratos de comida gordurosa e nada saudável. Gordice sela a amizade.

Sempre pedi ao Cosmos que parasse o Universo pra eu descer um pouquinho. Nessa época de tudo-ao-mesmo-tempo-agora era tudo o que eu desejava. Posso dizer, então, que fui atendida. E o Cosmos se superou.

Plagiando JK, foi um mês em uma semana. Fizemos tudo, mas absolutamente tudo, o que queríamos. E foi bom. Muito bom.

Férias perfeitas, sua linda, te amei!

Voltando pra casa

Conexão longa em viagem de volta de férias é algo estranho. Dá uma sensação de "entre-mundos".

Está perto de casa, mas ainda não chegou lá. A folga acabou, mas a viagem não está nem perto do meio.

Você quer sua cama, sua casa, suas pantufas, mas é obrigada a ficar horas e horas sentada numa cadeira dura contemplando o nada.

É jogada abruptamente numa sala fria, rodeada de estranhos com cara de zumbi igual à sua, que devem estar sentindo a mesma vibe Twilight Zone.

A saudade do maravilhoso mundo do ócio aperta. Por que as férias sempre acabam tão rápido?

Pra completar, a única distração é uma televisão sem som que repete as mesmas propagandas à exaustão.

Bling Bloing Bleing! Atenção senhores passageiros... E lá vamos nós de novo!