sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Suzhou, a Veneza Chinesa (que não conheci)

Suzhou é linda, mas o passeio foi horrível. Nada de inglês. Cidade grande com pontos turísticos afastados. Saga!

Mas me adianto. Vamos ao início.

Decidi conhecer a Veneza Chinesa, Suzhou. Fica a poucos quilômetros de Xangai e, se você escolher bem o trem, é possível chegar em apenas trinta minutos. Verifiquei horários do metrô e dos trens, escolhi a estação mais vazia, anotei tudo e dormi.

Acordei bem cedinho para aproveitar o dia na cidadezinha. Tomei uma xícara de café no quarto do hotel mesmo e parti, empolgadíssima com a aventura.

Surpreendentemente, tudo deu certo. Cheguei rápido à estação, comprei o bilhete com facilidade e embarquei. Ainda tive tempo de comer no trem, pois eles tem serviço de... bordo? Enfim, perfeito!

Meia hora depois já estava em Suzhou, mas não reconheci absolutamente nada do que havia visto nas fotos. Pela internet, o local parecia-me muito mais bucólico. Bom, não iria voltar direto da estação para Xangai, então, resolvi procurar um balcão de informações turísticas ou alguém que vendesse passeios de um dia pelos arredores.

Consegui, rapidamente, um mapa em inglês e um passe de ônibus. Só! Não foi possível obter qualquer auxílio a mais. Saindo do quiosque, fui abordada por um senhor com fotos - iguais as da Internet - e uma promessa de visita guiada com explicações em Inglês. Agora sim, pensei, vai dar certo. Comprei o pacote e, em seguida, tentei devolver o cartão. Sem devoluções, a mocinha respondeu, mais com gestos do que palavras. Ok, mais 15 yuans no fundo perdido. 

Ainda feliz, segui uma senhorinha que me levaria ao ponto de encontro para conhecer as quatro atrações que havia escolhido. Foi aí que começou!

Colocaram-me numa van, sozinha, com um motorista que só falava Mandarim. Ele dirigia feito um louco, fumando e gritando ao celular, enquanto dava voltas na estação de trem. Após a terceira volta, parou no mesmo lugar em que me pegou, abriu a porta e disse algo. Algo que não vou saber nunca o que foi, óbvio.

Continuei sentada. Pensei que pegaríamos mais alguém. Por fim, percebi que devia descer. Ele mostrou o meu recibo e o dinheiro que havia pago. Apontou outro motorista. Com algum esforço, entendi que era pra eu entrar em outra van.

Olhei pro motorista novo que estava com mais cara de interrogação do que eu e perguntei: English? Sacudiu a cabeça, os braços e se afastou. Olhei para o motorista louco. Ele resolveu gritar com o motorista novo. O novo, gritou também. 

Nesse momento, achei que era a hora de entrar na briga. Resolvi gritar que queria meu dinheiro de volta, que não iria fazer mais passeio nenhum e alguns impropérios que consegui me lembrar como eram ditos em inglês. Sim, optei pelo inglês, pois caso alguém conhecesse a língua, poderia vir em minha defesa. 

Síndrome de donzela em mode ON. Não rolou. Ninguém para ajudar. Voltei ao modo Fiona. Gritei, gritei e gritei mais alto do que os dois chineses. Por fim, quando o nervosinho deu bobeira, tomei o meu dinheiro da mão dele, devolvi o meu recibo, falei meu último palavrão, virei as costas e saí andando.

Vi um Shopping pegado à estação. Caminhando nesse sentido, uma placa. A do ônibus. Quinze yuans recuperados do fundo perdido. O ponto inicial dos ônibus turísticos era ali e, descobri, meu cartão valia também para os ônibus comuns que faziam a interligação dos passeios. Nesse momento, escolhi ver somente um lugar: a vila onde ficam as gôndolas. 

Cheguei no ônibus certo com muita mímica, ajuda de transeuntes, mostrando onde queria ir no mapa. O cartão não funcionou. Levaram-me nas promotoras de venda do cartão. Mais mímica e nada. Elas tentavam explicar como o cartão funcionava. Eu tentava dizer que não, ele não funcionava. Por fim, fizemos um teste juntas. Entenderam. Ganhei um novo cartão. Voltei para o ônibus.

Quarenta minutos rodando pela cidade e, por fim, o guia me manda descer com uma chinesinha bem simpática. Peguei o mapa e apontei, ele assentiu. Ótimo. Descemos. Agora é só achar o barco, fazer o   cruzeiro e me divertir, não é? Não!

Desci num jardim. O cruzeiro ficava a alguns quilômetros dali. Quem queria ver o jardim era a chinesa, o guia só tinha a intenção de se livrar de mim - a turista louca que apontava um mapa que eles não entendiam.

Quando em Roma, faça como os Romanos. Quinze minutos para encontrar a entrada do jardim e mais três horas passeando lá dentro. Caminhamos, tiramos fotos, rimos, passeamos de barco e não conseguimos entender absolutamente nada do que dizíamos uma à outra.

Por fim, bem cansada, expliquei que queria voltar. Saímos do jardim e fomos esperar o ônibus. Outra saga. Atravessa rua, pergunta explica, atravessa de novo, muda de direção, enfim, ônibus. Jurava que ela tinha entendido. Mas, uns dez minutos depois, outra atração, outro jardim.

Já eram quase cinco da tarde. Em breve, ficaria escuro e eu precisava retornar à Xangai. Sem muitas esperança, dirigi-me ao balcão de informações. Can I help you? Isso foi música para os meus ouvidos. Em segundos sintetizei o que queria fazer, onde precisava ir e um agradecimento sincero à chinesinha que, até então, me acompanhava tentando fazer as minhas vontades.

Saí de lá com o número do ônibus e o nome da parada escritos em Mandarim num papelzinho e fui mostrando pela rua até descer na frente da estação. Mais uma saga para comprar passagem, trinta minutos de viagem e, sim, Xangai! 

Mais perto do que Suzhou, fica Qibao. Apenas três metrôs da estação Central, onde eu estava. Fui. Queria ver os canais, as pontes, as gôndolas.

Lá, me virei sozinha. A parte histórica é ao lado do metrô e tudo é sinalizado. Comprei mimos pros bebês da minha prima utilizando a língua “calculadora”. É assim: você aponta o que quer comprar, eles digitam o preço e te entregam, você digita o que quer pagar, até chegar a um acordo. Divertidíssimo!

Passeei, comi e, quando escureceu, fui para o hotel. Realizada, mas sem ver as gôndolas! Não, não tem em Qibao...