domingo, 28 de dezembro de 2014

Explicando o inexplicável

Você tem de ir, mas não quer.
Eu tenho de ir, mas não quero.

Então, te deixo ir mesmo que você não queira.
Você, por sua vez, pede que eu vá.
Eu, digo de novo, não quero.

De repente, você não está mais aqui.
Eu, que deveria estar no mesmo lugar, parto.

Assim, sem você e sem mim, fica só o vazio.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Saiu sem rumo em busca de sensações. Encontrou voz suave, toque macio, corpo quente, lâmina fria.

Sentimentos salafrários

Os poetas dizem que os guarda-chuvas perdidos, os botões que caem das roupas, os estojos de pince nez, dentre outras pequenezas, vão todos parar nos anéis de Saturno.

Para lá, também foram meus sentimentos. Todos. Mudaram-se definitivamente e agora giram, brilham e colorem um céu que ninguém vê.

Fugiram de mala e cuia.

Esses sentimentozinhos sem-vergonhas não enfrentam dificuldades. Ao menos sinal de perigo, desaparecem em busca de abrigo. Não têm nenhum pudor em deixar-me aqui, completamente vazia, racional, dura, fria.




segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Horóscopo

Um dia, só um dia, eu gostaria de ser apenas o que está escrito na folhinha.

“Bons presságios o cercam. Terás conversas agradáveis, sabendo aproveitar o que te dizem. Sorte: 07-15-23-27-39-51”

Pronto. Ganhadora da Mega!

Só um dia...


RIP

Dois mil e quinze será feito de tomates, manjericão e samambaia. Pra quem precisa de legenda: coisas palpáveis. Dessas que a gente planta, colhe, come ou bate no liquidificador e congela pra comer depois.

Os sonhos, neste ano que chega, permanecerão na padaria. Desculpem-me, estou fazendo dieta e gastei uma fortuna com um plano eterno na academia.

Quero só o que posso tocar, cheirar, sentir. Ficou pra depois o que podia ser deixado pra depois. Afinal, esse depois não chega nunca. Quero aproveitar hoje o que conquistei até agora.

A insatisfação ficou pegada à alma blasé. RIP alma blasé.

RIP 2014!


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Curtinha II

Você vê que seu grau de exigência deixou de existir quando nota que não precisa mais ser inteligente, bem sucedido, interessante, bonito, charmoso e divertido pra te conquistar. É necessário, apenas, gostar de mulher, ser alfabetizado e ter dentes (mesmo que sejam comprados).

Curtinha

- Problemas? Você?
- Sim, vários. Todos tratáveis. Uns com paciência, outros com boa vontade.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Partida

No dia em que você se foi, vesti preto, fiz todas as honras e, também, me fechei. No dia em que você partiu, sofri. Quis ir junto. Pedi, implorei, mas não consegui.

No dia em que você se foi, muita coisa mudou. Entendi que o mundo continuaria sendo mundo. Porém, seria mais vazio por um tempo. Minha vida deixou de fazer sentido quando você se foi.

No dia em que você se foi, perdi meu chão, minha segurança, minha vontade de viver. E, ainda assim, você se foi. Sem despedidas, sem aquele último beijo, sem o abraço final.

No dia em que você se foi, tomei café da manhã, almocei e jantei. Trabalhei o dia inteiro como em qualquer outro dia. Nada parecia diferente, até você ir.

No dia em que você se foi, percebi que a sua partida poderia significar um fim, mas também, um recomeço.

Você se foi, eu sei, mas por quê - diabos - você não morre?

Seria tão mais fácil...

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Paradoxo

Cada dia mais distante...

(to be continued)

O presente ideal

- É isso! Eu vou te dar um livro.
- Um livro?
- É. Acho que livros são capazes de afugentar a solidão, acalentar a alma, afastar tristezas, povoar a mente e a vida. Eles te levam para outro lugar sem que você precise se mover. E esse outro lugar pode não ser perfeito, mas é algo diferente. Outras vezes, te mostram um jeito novo de ver o que é velho. Trazem perspectivas diversas sobre os assuntos de sempre e os de nunca. Livros libertam. Fazem crescer. Quando disse que queria te dar o mundo, pensei ser impossível. Mas não é. Vou te dar um livro. Vou te dar um mundo. Cuide bem dele e, se gostar, dê, também, um mundo para outra pessoa.

É assim, sempre...

Tem de acontecer, porque tem de ser
E o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora
(Deolinda)


Porque quando tem de acontecer, acontece. 
Não adianta espernear, fazer birra ou dar piti. 
E acontece, é claro, o que tem de acontecer. 
Nem sempre é o que você quer que aconteça. 
Mas, sempre acontece o que tem de ser. 
E se não aconteceu ainda, não é óbvio? 
Não tem de ser...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Desculpe-me se não soube te entender...

Morte é algo incrível. Apaga a vida. Apaga tudo. E, de repente, quem morreu vira santo. A morte passa uma imensa borracha nos erros de quem viveu.

Assim parece, mas não é. É só vontade de guardar as coisas boas. E, até mesmo, distorcer as coisas ruins até que virem boas.

Talvez uma culpa cósmica que nos faça reinventar o que foi vivido.

Nem certo, nem errado, apenas injusto.

Injusto com quem morreu e que não expia o que deve. Injusto com quem ficou e que colhe o que não plantou.

Morte é morte. Significa fim, mas também, recomeço. Nunca, justificativa.


  
Então, tem essa poesia linda do Manoel de Barros que fala sobre um menino que vai carregar água na peneira a vida inteira. Sua mãe promete quem alguém vai amá-lo por seus despropósitos.

Não sou poetisa e nem me comparo ao Manoel de Barros, mas sou dada a despropósitos e sempre esperei ser amada por isso.

Dado que, atualmente, ninguém tem interesse em conhecer o outro, despropósito passou a ser defeito. Assim, não quero mais carregar água na peneira.

E, por fim, nunca tive mãe, ou a que tive, nunca foi mãe. Tive tia. Essa, sim, ensinou-me vários propósitos e me ensinou, também, que, às vezes, despropósitos são dignos, desde que nos sirvam.

Portanto, se eu carregar água na peneira é por insistência e, meus despropósitos, juro, são por amor próprio.



sábado, 23 de agosto de 2014

Solidão é o meu sobrenome

Nunca pensei em mim como ser desagradável ou persona non grata. Mas de uns tempos pra cá, é a impressão que tenho de mim mesma.

Sempre só. Sem amigos, namorado, colegas de boteco. Nada. Apenas o gato.

Definitivamente, sou a velha louca dos gatos!

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A hora do espanto?

Tenho estado na função de arrumar a casa em tempo quase integral. Digo quase porque à noite, às vezes, tomo uma coisinha e escuto música para relaxar. Eu e os vizinhos, até às dez, é claro. Aliás, eles escutam a música, não sei se tomam coisinhas. Não tenho amizade com os vizinhos.

Bom, mas não era isso. A questão é a música, ou melhor, a caixa de música. Não, de novo. Não é caixa de música, é uma caixa que se conecta por bluetooth com outros dispositivos. Tem rádio, USB e leitor de cartão também, mas só uso o bluetooth.

Ela é relativamente nova. Outra vez, não. Não é lançamento, mas adquiri há pouco tempo. Enfim, tudo isso para dizer que ainda não aprendi a usar a caixa. É isso!

Então, ontem, ouvindo música, ela travou. Troquei de computador e voltou a funcionar. Hoje, depois de pendurar as cortinas lavadas (e amassadas), tirar o resto para lavar e arrumar mais um pouco de bagunça, voltei ao cantinho de sempre, para relaxar.

Abro o laptop, entro no site de seleções musicais, conecto à caixa, dá erro. Mas, espantosamente, toca outra música. E o pior, uma música que me lembra minha mãe. A mãe morta cujo aniversario de falecimento é amanhã.

Reiniciei o computador, a caixa, a conexão e nada. Bom, nada não. De novo, a música da Mariza. Um fado que diz assim: Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir, pois tudo em meu redor, me diz qu'estás sempre comigo.

Tremi. Ah! Detalhe: o nome da minha mãe era Marisa. Desliguei toda a parafernália mais uma vez, fiz uma prece, liguei e, novamente, O FADO!

Por fim, lembrei que tenho essa música gravada no outro computador. Sim, o que usei ontem. Entrei no quarto e lá estava ele, conectado à caixa, tocando Mariza.

Bah, tecnologia...

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Arcano IX

A boite estava tão vazia que os poucos que entravam acenavam com a cabeça e me davam boa noite. Havia chegado há pouco. Não era muito tarde. Os amigos do bar foram todos para suas casas e eu não tinha para onde ir. Foi assim que cheguei lá. 

Pensava em tomar mais uma ou duas cervejas, dançar um pouco e, então, dormir. Sem sono, optei pelo torpor. Ambiente frio, vazio, deprimente. Nada agradava, nem a cerveja. Muito menos o preço dela. 

O rapaz que estava no final do longo balcão de madeira dividia seus olhares entre o celular, o relógio e a minha cara de poucos amigos. Demorou bastante até se aproximar. Conversinha infame, falta de dente e dificuldades para concatenar ideias fizeram-me ir ao fumódromo e não mais voltar.

Mais um desavisado. Outra conversa desagradável. Nada de música dançante. As pessoas perderam mesmo a noção, não é? Pensei em Ângela Maria...

De noite, eu rondo a cidade, a te procurar, sem encontrar. No meio de olhares, espio por todos os bares, você não está. Volto prá casa abatida, desencantada da vida, o sonho alegria me dá, nele você está.

Quando me apaixono

Quando me apaixono, 
como me apaixono? 
Perdidamente, 
até perder-me 
de mim mesma.


O que têm em comum uma Diretora de Multinacional, uma faxineira, uma professora de yoga e uma funcionária pública, além de pertencerem ao sexo feminino?

Independentemente do grau de instrução, espiritualização, consciência política, quando se apaixonam, perdem a capacidade de raciocinar.

E não é só isso. Tratam o objeto da paixão como prioridade número um de seu universo. Desdobram-se para lidar com todas as tarefas de suas atribuladas vidas, às vezes, para conseguir um encontro que não dura mais do que meia hora.

Chega a ser engraçado. Esses seres femininos tão habilidosos, que têm a capacidade de lidar com diversos assuntos ao mesmo tempo, ao adentrarem na esfera das emoções, transformam-se em obsessivos unifocais.

Não comem, não dormem, não trabalham, não respiram sem pensar no amado. Seja um amor correspondido, ou não, o comportamento é o mesmo.

Parece-me que sofrem de uma psicopatologia que poderia ser adicionada ao Compêndio de Psiquiatria. Deveria ter CID, atestado e tratamento.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Doce ilusão, amarga verdade?

Não creio.

Mentiras brancas, socialmente aceitas, ditas inofensivas. Ainda assim, mentiras.

Estou chegando. Não vi. Não deu para ir. Hoje tenho compromisso. Minha avó faleceu.

Matar família? Parece-me cinza. Repetida à exaustão, clareou-se. Tornou-se o cinza mais pálido que existe, quase branco gelo.

Todos fazemos. Por isso, talvez, adquirimos a capacidade de identificar facilmente quando o fazem conosco.

Incomoda. Machuca. Entristece. Magoa.

Se usadas timidamente, podem até ser perdoadas. O uso indiscriminado, no entanto, abala de modo severo a confiança.

A grande contradição está, porém, nas razões do uso: proteger, poupar, resguardar.

Mas quem, meu Deus? O mentiroso patológico ou o eterno iludido?

A prática, com o tempo, chega a produzir um abismo entre os indivíduos.

Então, para quê? Qual é a real necessidade disso? Será falta de coragem? Respeito? Interesse?

Muitas dúvidas. Nenhuma conclusão.

Filosofia barata, de boteco, chinfrim e tacanha, que tira o sono.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Menu do dia

A preguiça chegou em um nível absurdo e, com fome, mas sem querer comer para não lavar prato e panelas, tive inveja dos astronautas com suas pílulas maravilhosas. Ao menos, no meu entendimento, era esse o cardápio espacial.

Resolvi pesquisar na Internet com os seguintes objetivos:

1 - verificar se realmente existiam as tais pílulas;
2 - encontrar pontos de venda;
3 - montar um menu nutritivo e sortido que caberia em um porta-comprimidos;
4 - encomendar essa maravilha do mundo moderno.

No primeiro link que encontrei, percebi que outros tinham a mesma dúvida que eu. Lá estava a pergunta: Os astronautas se alimentam de pupilas? Chorei de rir. Ri mais ainda com as respostas. Sim, eles comem olhos!, foi a melhor.

Depois, encontrei um texto sério, mas chatíssimo, com explicações detalhadas sobre gravidade, desidratação e carne radioativa.

Preferi pizza.
O gato, se fosse gente, seria uma pessoa daquelas bem tagarelas... Barbaridade, como mia!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Encontro fortuito ou A incapacidade de ler sinais óbvios

Um dia desse aí, encontrei uma pessoa que não via há muito tempo. Depois de cumprimentos esfuziantes, assuntos rápidos e silêncio constrangedor, aquele "Vamos nos encontrar? Me liga?". Frase fatal para finalizar conversa no meio da rua. 

Enfim, despedimo-nos. Maaaaassss... porém, entretanto, contudo, todavia, eu - a inepta das relações sociais - pensei que realmente deveria marcar qualquer coisa com a pessoa. Café, almoço, chopp, não sei... algo. Senti-me, realmente, na obrigação de estreitar novamente os laços.

Liguei. Conversinha mole, estranha... E eu, do nada, néscia-palerma-parva, saco um: - Que tal um almoço na próxima semana para colocarmos as fofocas em dia? A figura detalhou todos os compromissos da vida atribulada que leva. Todos, absolutamente todos, até 2015, pode?

Desliguei o telefone e tive que rir. De mim, é evidente. Me liga? Ai ai... No que eu estava pensando, hein?

Querido diário

Comprei duas plantas para decorar e alegrar a casa. Mais ou menos isso, quero dizer. A samambaia veio porque estava muito barata, é uma miniatura, fácil de cuidar e o rapaz que estava na minha frente na fila largou a coitadinha de lado antes de passar no caixa. Imagina, samambaia barata largada no caixa da Leroy Merlin? É um trauma muito grande, mesmo para uma planta. O manjericão... bom, o manjericão foi escolhido porque prefiro erva fresca na comida.

Mas sim, por enquanto, são apenas decoração e alegria. Se não morrerem antes, é claro. De quê morreriam? Então... de sede, afogadas, falta de sol, excesso de sol. Enfim, todos esses perigos a que são expostas por aqui. Ah! Poderiam ser comidas por lagarta também.

É verdade! A samambaia veio com uma lagarta própria e eu tive dó de matar. Criei a lagarta por sete dias, pensando que ela se transformaria numa belíssima borboleta. Descobri que não iria acontecer metamorfose alguma quando notei que ela dobrou de tamanho e as folhinhas foram reduzidas à metade. Joguei a lagarta fora. Como reconhecer lagartas que viram borboletas?, fiquei pensando.

Ontem foi o dia do banho de sol das plantas. Coloquei-as na mesa e saí para trabalhar. Não é que só possam tomar sol em um dia específico, tipo presídio, mas o fazem quando lembro. Lembrei ontem. Pois bem, o manjericão sofreu pequenas avarias. O gato também gosta de ervas frescas.
Ah! O gato! Sobrevive porque mia quando está com fome. Aliás, está miando agora. Vou ali...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Meu amor, cadê você? Eu acordei, não tem ninguém ao lado...

Faz tanto tempo que brigamos todas as noites que já nem sei mais como é ter uma noite de sono tranquila.

Sonhei que você viajava pra longe, bem longe. Sozinho. No meio do voo, o avião explodia. Aliás, não o avião inteiro, apenas a sua cadeira.

Eram quatro e meia da manhã. Levantei assustada. Tomei um copo de leite morno e adormeci novamente, sentindo-me viúva. Um pouco triste, um pouco aliviada.

De manhã, uma certa melancolia. Óbvio que só depois de imaginar seu enterro, a fila de amigos arrasados que choravam copiosamente, as condolências e meu melhor modelito preto, na última moda.

Sei que isso não justifica, mas ao menos explica o motivo de não ter te cumprimentado quando te vi. 

É que você morreu, entende?

Afinal, o que é ser livre?

segunda-feira, 16 de junho de 2014

No reino da frustração

Meus sonhos são, assim, palpáveis. Alguns parecem ser feitos de vidro, outros de areia. Tomam forma. São, também, visíveis, é óbvio. E se quebram. Desfazem-se com facilidade.

Dão lugar a um vazio infinito. Fica um nada com um quê de tristeza. Melancolia chata que custa a passar. Mas passa. E dá lugar a novos bibelôs de vidro que enfeitam recém-construídos castelos de areia.

No reino da frustração existe o tempo de fantasiar e o tempo de chorar. Princesa solitária encerrada em torre de pensamentos. Limitada pela própria imaginação. Agrura inventada, porém sentida.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Se...

Se me apaixono ainda, assim perdidamente, é porque não aprendi nada. Ou talvez faça questão de esquecer sempre.

Se me atiro do penhasco com a plena certeza de que vou voar é porque não entendo como não criarei asas se creio tanto nisso.

Se fico à mercê de visitas adiadas e encontros transferidos é porque no meu demente exercício de pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio, fantasio...*

Se te espero, te quero, te amo, é porque não acredito que acabou.

*Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Uma vez, eu tive uma ilusão...



e não soube o que fazer
com ela
(Julieta Venegas)


Colocação pronominal. Foi o que a encantou logo no primeiro contato. Adorava gramática. Nunca soube bem, mas admirava os que dominavam a língua.

Ele, espontâneo, inteligente e deliciosamente natural. Discorria sobre a vida, viagens, filmes, desilusões e amor. Mas mantinha distância. Sempre.

Ela não entendia como alguém conseguia ser íntimo sem ser pessoal. Ansiava pelo que fosse próprio. Uma frase. Uma pista.

Ele, enigmático. Cheio de opiniões. Sem histórias. Ela, transparente. Desfazia-se em declarações. Nunca havia falado tanto de si. Nem em consultório de analista.

Uma noite. Um drink. Um convite inesperado.
Sequência infindável de atropelos.
Inversão de papeis.

Habilidade linguística que não ecoou em qualquer outro quesito.
Decepção seguida de afastamento.

Amor demais

- Aqui?
- Não, mais embaixo.
- Assim?
- Não, aperta com mais força.
- Mas vai ser muito rápido.
- É melhor.
- Não queria que...
- Vamos, agora me dê um beijo e se despeça logo antes que o oxigênio aca...

Ausência

Não sentia falta de casa. Nem da mãe que já havia morrido. Do emprego que perdera, nem se lembrava.  Mas as pernas, ah, essas ainda lhe doíam, apesar de não estarem mais presentes.

Nana nenê que a Cuca vem pegar...

Fazia tanto frio que os dedinhos dela estavam roxos. Teve febre alta durante à noite. Chorou muito. Dei os remédios que tinha em casa. Liguei para o médico, mas ele só poderia vir de manhã. Tentei a mamãe. Deu-me receitas caseiras.

Vesti nela a roupa mais quentinha que encontrei e enrolei várias mantinhas. Parecia um pacotinho de tão embrulhada. Meu presentinho desdentado e sorridente. Menina linda. Calma. Boazinha, diziam minhas amigas.

Por volta de quatro horas da manhã, a temperatura pareceu baixar. Adormeci. Só notei que não respirava e nem se mexia no dia seguinte.

O que dói, o que machuca e o que mata

- Eu... eu beijei outra pessoa ontem à noite...
- O quê?
- É. Beijei.
- Por quê?
- Não sei, aconteceu. Não planejei nada. Nem sei porque fiz isso.. Você... você me desculpa? Eu te amo!

Isso dói.

- Às vezes, não entendo o motivo de ainda estarmos juntos. A gente só briga. Penso, até, que cada um deveria seguir o seu caminho.
- Você não quer mais ficar comigo?
- Deixa de ser dramática. Não é isso. Só estou querendo dizer que precisamos recuperar o clima de romance.
- Mas... mas você está disposto a tentar?
- Claro que sim! Desculpe-me pelo jeito que me expressei. Eu te amo...

Isso machuca.

- Como foi seu dia?
- Bom. E o seu?
- Bom também.
- Novidades?
- O de sempre. E você?
- Tudo na mesma.
- Vai jantar?
- Mais tarde. E você?
- Comi na rua. Já vou me deitar.
- Boa noite.
- Pra você também. Te amo.
- Eu também. Até amanhã.

Isso mata.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

First Class

Você não sabe como é viajar de primeira classe e, ainda assim, não gostar? Aqui vai a receita:

Ingredientes

Lugar fantástico
Data escolhida
Companhia ideal
Planejamento
Expectativa

Modo de Preparo

Seja convidada para conhecer um lugar fantástico que você sempre sonhou em ir. Não pode inventar a viagem sozinha, tem de ser con-vi-te!

Escolha a melhor data para ir considerando clima, feriados, folgas e disponibilidade financeira.

Passe três meses planejando a viagem. Faça pesquisas, roteiros, peça dicas aos conhecidos, entre em fóruns de discussão sobre as melhores baladas e os must go.

Crie expectativas sobre o que vai acontecer. Não deixe absolutamente nada de fora. Do check in ao check out, tudo deve ter sido imaginado, fortemente idealizado, intensamente sonhado.

Viaje. Chegue radiante no local. Inicie os preparativos para a chegada do companheiro de viagem. Receba a notícia, de bom grado, que o tal companheiro não vai mais aparecer por lá.

Sorria. Seja fina. E com a voz bem calma diga que não, não se importa de maneira alguma, afinal, imprevistos acontecem. Deseje boa noite, mande um beijo carinhoso e lembranças à mãe, é claro.

Antecipe a sua volta e regozije-se ao saber que sobraram apenas os lugares mais caros do avião. Embarque outra vez e aproveite todo o conforto e o luxo da primeira classe.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Amor sólido e líquido, mas nunca gasoso

Em Homeland não tomamos doses de uísque ou vodca. Não temos dosador. Tomamos copos. Copos cheios de amor líquido.

Homeland é assim. Lá, pratica-se a cura pelo estômago ou pelo fígado. Temos copos e pratos cheios.

Comemos feijão com ovo e costela às cinco horas da manhã porque não há horário para fome em Homeland, apenas para a vontade. E a vontade é a Lei.

Não há Voldemort que resista ao amor que existe em Homeland.

sábado, 26 de abril de 2014

Romance

Então resolvi apimentar a relação. Sim, e daí?  Dez anos de matrimônio levam à rotina, por mais que se cuide do relacionamento.

Bom, comprei uma fantasia daquelas vendidas por internet. Minhas amigas acharam o máximo. Fiz regime durante um mês pra ficar realmente gostosa naquela roupa esquisita e desconfortável.

Escolhi a noite perfeita. Ele iria sair mais cedo da empresa. Liguei com a desculpa de que precisava de uma opinião sobre o projeto de reforma que estava fazendo em um hotel. Combinamos às 21h, na suíte modelo.

Às 20:30, já estava pronta. Fantasiada, maquiada, lençol de cetim com pétalas de rosas em cima da cama. Velas aromáticas no banheiro e óleo perfumado no ofurô. Um balde com gelo e Champanha cara em cima da mesa.

À meia-noite, desisti de esperar. Abri a bebida e fui para o ofurô. Acendi um baseado que comprei de uns moleques atrás do hotel, num posto de gasolina, e resolvi relaxar.

Ficou no bar com os colegas. Esqueceu o compromisso. Ainda ligou na manhã seguinte, aos berros, querendo saber onde eu estava.

terça-feira, 8 de abril de 2014

COR-TA!!!

De novo
Valendo!

- Fruta?
- Abóbora.

Corta!

- Meu bem, abóbora não é fruta.
- Desculpa. Fico nervosa em entrevista.
- É só um bate-bola. Coisa fácil. Relaxa..
- Vou tentar. Abóbora é o que mesmo?
- Sei lá, verdura. Não. Verdura é verde. Acho que é legume. Enfim, não é fruta.
- Entendi. Morango, então.
- Sim, morango é fruta. Mas não pode ser ensaiado, senão fica falso.
- Entendi, entendi.

Vamos lá?
Valendo!

- Livro de cabeceira?
- Morango!
- Oi?

Corta!

- Você mudou a pergunta!
- Avisei que não podia ser ensaiado. Você nunca leu um livro?
- O pequeno Príncipe...
- Só esse?
- Até a metade...
- Entendi.

Pessoal, va-len-do!

- Filme preferido?
- É... é...  já filmaram O Pequeno Príncipe?
- Que ótima ideia! Ainda não. Qual personagem você gostaria de representar se fosse filmado?
- A rosa, é claro.
- É claro. Então, agradecemos a presença da atriz principal da nova novela das oito, que estreará na próxima semana, a grande... qual é o seu nome mesmo?

CORTA!!!

- Coracy, meu nome é Coracy Nunes, mas não vou fazer novela nenhuma não.
- O quê? O que você está fazendo aqui?
- Eu entrei aqui pra passar pano na sala enquanto estava vazia. Sentei nessa cadeira e peguei no sono. Acordei com as luzes e o senhor já foi fazendo um monte de perguntas... fiquei. É feio deixar os outros falando sozinhos, não é?

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sonhos

Preciso escrever uma história. Quero contar a minha história. Mas, por onde começar? Pelo meu nascimento. Não, não. Poucas lembranças para isso. Talvez, pela adolescência. Não, também não. Ah, já sei! Sapatilhas de balé! É isso.

Fazia muito frio naquela tarde. Chovia uma chuva fina e incômoda. Gelava de doer os ossos. Havia saltado do ônibus para ir à loja das bailarinas. Depois de dois quarteirões, notei que andava na direção contrária.

Saí da aula correndo para comprar as sapatilhas de ponta e precisaria correr mais ainda se quisesse chegar no balé antes do aquecimento. Seria o terceiro atraso do mês. O suficiente para ser cortada da apresentação.

Entrei na loja encharcada e sem fôlego. Não tinham o meu número. Deixei o telefone para quando chegasse a encomenda e me pus a correr novamente. Isso é vida?, pensei. Tomei um táxi e consegui cumprir o horário. Lá se foi o dinheiro do mês.

Calcei as sapatilhas rasgadas, torci a roupa o mais que pude antes de vesti-la e fui para a sala parecendo um pinto molhado. Cabelo arrepiado, tremendo de frio.

- Não tem guarda-chuva, Cecília?
- Não, senhor.

Foi o único diálogo.

Três horas depois e me lembrava perfeitamente o motivo daquele esforço todo. Sim, dançar vale qualquer intempérie. Dançar é a minha vida. Só existo quando danço.

O empenho daquelas últimas semanas fora recompensado. Primeira bailarina, disse a professora, desde que arranjasse as benditas sapatilhas novas, é claro. Voltei para casa sonhando com o Bolshoi, entrevistas, televisão, fama e dinheiro. Seria tão conhecida quanto a Ana Botafogo. Aliás, perguntariam "Quem foi Ana Botafogo?" ao me assistir.

Faltavam dois meses para o grande dia e já me sentia aclamada pelo solo espetacular que faria. Havia sido escolhida. A escolhida! Entre mais de cinquenta meninas. O que poderia dar errado?

Hoje sei que certas perguntas não devem ser direcionadas ao Universo. Tudo, absolutamente tudo, poderia dar errado. Naquele tempo, ainda não havia aprendido a pensar assim.

A maldita chuva colocou-me na cama por duas semanas. O suficiente para perder os ensaios e, também, a porcaria da sapatilha. O vendedor ligou, não pude buscar, vendeu para outra. Ao treinar em casa, doente, com a velha, torci o pé.

- Que ideia, menina!!! Dançar nesse chão de ardósia?
- Mãe!
- Gesso e fisioterapia, obedeça o médico.
- Mas, mãe?
- Essa conversa já terminou!

Foi exatamente assim que tornei-me taquígrafa do Senado.

Então, quem disse que frustrações não levam a lugar nenhum? Levam, sim. Levam ao funcionalismo público, não é mesmo?

terça-feira, 1 de abril de 2014

A estreia

Foram meses de ensaio. Trabalho árduo. Primeiro solo de sua carreira. Ele, pela idade avançada ou por tradição, insistia em denominar monólogo. Os amigos faziam coro: Shakespeare não é pra qualquer um.

À medida em que se entregava à direção, à manipulação do outro, perdia-se. O medo o dominava. A falha, neste caso, seria trágica. Aquele papel definiria sua vida.

Pesquisou autor, época, história. Decorou texto, trejeitos. Aprendeu línguas. Por fim, desenvolveu um novo modo de pensar, agir e reagir. Tornou-se personagem em vida. Levou a fantasia para a realidade. Ultrapassou a mimese.

Quando o grande dia chegou, estava irreconhecível. Pré-estreia fechada. Imprensa e convidados do diretor. Casa lotada. Ao fim do terceiro sinal, silêncio absoluto.

Soberano, reinou no palco desde a primeira cena até o último aplauso. Foi generoso ao agradecer a oportunidade dada pelo diretor e a presença de tão ilustres convidados. Brilhou no coquetel ao compartilhar a experiência obtida no processo. Dormiu exausto e satisfeito.

Enfim, a estreia! Como superar a atuação do dia anterior? Coragem!, repetia para si mesmo. E não era para aquilo que vivia?

A cena repetiu-se. Casa lotada. Silêncio.

Palco vazio. Atrasou a entrada. Esqueceu o texto. Pânico. Foram os dois minutos mais longos de toda a sua existência. Encarou a plateia, sorriu, percebeu o que deveria fazer.

Atuou de forma ainda mais perfeita. Representou tão bem que o público custou a entender porque todo o teatro se iluminou quando o personagem suicidou-se. Alguns, acreditam até hoje que a ambulância era parte da encenação.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Inocência

Puxava meu cabelo. Implicava com tudo o que eu fazia. Mas, ao mesmo tempo, queria estar sempre ao meu lado. Ria das bobagens que eu dizia e me tirava pra dançar na seresta da igreja. Só pra eu não ficar encostada na parede a noite inteira, dizia.

De repente, sem mais nenhum aviso, a pergunta.

- Me dá um beijo?
- Não posso... Tenho que perguntar, antes, pra minha mãe.
- Você pergunta e volta?
- Tá!
(...)

- Mããããããããããããããe...

(...)

Um beijo desajeitado, rápido, seguido de olhares tímidos e sorrisos envergonhados. Corri de novo para casa. Entrei, bati a porta e fui direto para o banheiro. Precisava ver-me no espelho. Agora sou mulher, pensei. Enrubesci novamente. Coração acelerado e mãos trêmulas, não sei - até hoje - se pela corrida ou pelo beijo.

Foi assim, a descoberta do primeiro amor. Não teve outro beijo depois daquele. Andávamos de mãos dadas. Jogávamos queimada no mesmo time. Ele emprestava-me o carrinho de rolimã em troca do meu skate. E, em seu ato mais cavalheiresco, não mirava meu rosto quando fazíamos guerra de mamona.

Engraçado, parece que até hoje é assim. Eles provocam,  resmungam e fazem grosserias. Quando vêem o tanto que nos magoam, catam uma florzinha no canteiro e nos entregam com olhinhos cheios de culpa e remorso.

domingo, 16 de março de 2014

Espelho, espelho meu...

Repetiu o ritual de todas as manhãs. Levantou, olhou-se no espelho e constatou, mais uma vez, a ação dos anos. O tempo não era seu amigo, definitivamente.

Puxou o rosto com as mãos e imaginou como uma simples cirurgia poderia melhorar o seu humor matinal. Ficou alguns minutos em êxtase. Fantasiou festas, olhares apaixonados, elogios espontâneos. Tudo o que a juventude traz sem qualquer esforço.

Partiu, então, para o escrutínio do corpo. A barriga... Sempre a barriga! Quando aquele amontoado de gordura tinha surgido? Não sabia precisar. Porém, notava o crescimento dia após dia. Outra intervenção cirúrgica, pensou. Assim, ficaria bem humorada e feliz.

Esboçou, ainda, uma olhadela nas estrias e celulites, mas já estava irritada demais para perder tempo com isso. Entrou no banho jogando a toalha sobre o espelho para não acabar com o dia de vez.

Dia interminável no trabalho. Os problemas amontoando-se em pilhas somados a um chefe intragável faziam-na sentir-se completamente desgastada. Não só trabalho, uma lista enorme de afazeres também e nenhuma, nenhuma motivação.

Arrastou-se do escritório para a academia. Cumpriu a obrigação com má vontade desviando, como podia, seu olhar dos espelhos cruéis. Tomou banho e vestiu-se no reservado. Correu para a última tarefa da noite: terapia. Por que mesmo que precisava de terapia? Nem se lembrava. Recomendações médicas ou algo do gênero.

- Não, você ainda não pode ter alta.
- Por quê? Sinto-me tão bem e...
- Você tem 25 anos e não consegue se ver como é. Anorexia nervosa é uma doença séria e precisa de tratamento. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Eu gosto de listas

Dez coisas que não gosto
Desprezo
Descaso
Desatenção
Desinteresse
Desmesura
Desonra
Desterro
Desonestidade
Desvirtude
Desamor

Uma coisa que eu gosto
Desapego


terça-feira, 4 de março de 2014

Riscos

O meu maior medo? Ser feliz. É verdade, juro. Felicidade inebria, alastra-se, vicia e - por fim - acaba. Mas não termina simplesmente igual ao último brigadeiro que deixa a bandeja apenas vazia. Fim de felicidade traz dor. Mágoa, às vezes, e sofrimento. Por isso evito qualquer tipo de alegria.

E não é só isso. Passo longe do amor também, que é outro sentimento terrível. Não me julgue mal. Não é que eu não seja romântica. Até gostaria de encontrar minha alma gêmea, penso. Mas o terror de vê-la ir embora me faz guardar distância do amor. Então, evito qualquer tipo de contato.

Não ando descalça pra não me cortar. Não tomo sol pra não ter câncer. Não tomo sorvete pra não ter dor de garganta. Não saio à noite porque o sereno pode deixar-me resfriada.

Sou precavida e faço boas escolhas. Guardo a vida que me foi dada para… para quê mesmo? Ah! Pra viver depois…

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Não é que eu não queira, não acontece.

De repente vem uma vontade louca de mudar, de não ser. Simplesmente não ser mais isso que me tornei.

Isso que não sei bem o que é. Mas não gosto. Deixar tudo pra trás e começar de novo.

Hábitos, manias, idiossincrasias. Tem nome apropriado? Também não sei.

Sensação de inadequação.

Será que personalidade pode ser uma roupa que um dia deixa de servir? Sai de moda? Rasga e não tem mais conserto?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

E viveram infelizes para sempre...

A juventude se foi, mas eu permaneço aqui, parada, patética, esperando aquele que não chega nunca. Guardo com zelo o sapatinho de cristal que iria identificar-me como a amada prometida. Enquanto o pé, cansado, cheio de calos, enruga, entorta.

Semblante esmaecido. Corpo encurvado.

O Conde de Foucauld perdeu a hora, o despertador, o relógio. Perdeu-se no tempo e com isso desperdiçou, também, o meu tempo. Deixou passar o unicórnio branco que o traria para os meus braços. Uniu- se à Cuca e se acomodou.

Sempre ouvi dizer: cuidado com a Cuca, que a Cuca te pega e pega daqui e pega de lá.

Pegou...

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Feliz desaniversário

A partir de hoje farei desaniversários, como aconselhou-me uma amiga. Decrescerei em idade, esticarei as rugas com produtos fantásticos e pintarei os cabelos. A cada ano ficarei mais ingênua e inocente. Não digo imatura porque isso já sou. E - quase - não me importo.

Darei-me, ainda, o direito de entregar as minhas cartinhas de desapresentação. À medida em que voltar no tempo, poderei apagar o passado e, principalmente, pessoas.

Não que eu conheça pessoas genuinamente más. Isso não. Apenas desagradáveis. Enfadonhas, também.

E pra provar que sou sublime (viu F. Pessoa?) desobrigarei esses seres do meu convívio. O que acredito, sinceramente, ser uma benesse, dado que não sou tão adorável quanto penso.

Ou não! (viu, Caetano?)


Epifania na Repartição

Inferno astral: alguns dizem que existe, outros falam que é balela. Eu acredito. Lista de afazeres crescendo na mesma proporção em que a energia vital diminui. Sentindo-me um Tamagochi abandonado.

Resolvo, então, apelar novamente para o poder mágico das agulhas e das gotinhas. Encontro forças para sair da inércia. Oito itens cumpridos em apenas dois dias. Comemoro.

Tudo, mas absolutamente tudo, dá errado. Exaspero-me.

Pausa dramática.

A epifania: não é o mundo, sou eu!

É bem óbvio, eu sei, mas levei 36 anos para descobrir isso.

Repartições públicas não funcionam bem, carros quebram e lâmpadas queimam. Sim, é um absurdo, mas existem pessoas que nunca vão gostar de mim ou me tratar bem. O trânsito tende a piorar, assim como o clima e a falta de educação dos seres humanos.

Portanto, sou eu que devo arrumar um jeito criativo de não me irritar tanto com as pequenas coisas do dia a dia.

#difícil_mas_tentando

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dramando

Dramando existe, não duvide. Ao menos, quando acontece o alinhamento das três Luas em Leão. Sim, dramamos, meu bem. Porque dramatizar é coisa para o resto dos mortais.