segunda-feira, 31 de março de 2014

Inocência

Puxava meu cabelo. Implicava com tudo o que eu fazia. Mas, ao mesmo tempo, queria estar sempre ao meu lado. Ria das bobagens que eu dizia e me tirava pra dançar na seresta da igreja. Só pra eu não ficar encostada na parede a noite inteira, dizia.

De repente, sem mais nenhum aviso, a pergunta.

- Me dá um beijo?
- Não posso... Tenho que perguntar, antes, pra minha mãe.
- Você pergunta e volta?
- Tá!
(...)

- Mããããããããããããããe...

(...)

Um beijo desajeitado, rápido, seguido de olhares tímidos e sorrisos envergonhados. Corri de novo para casa. Entrei, bati a porta e fui direto para o banheiro. Precisava ver-me no espelho. Agora sou mulher, pensei. Enrubesci novamente. Coração acelerado e mãos trêmulas, não sei - até hoje - se pela corrida ou pelo beijo.

Foi assim, a descoberta do primeiro amor. Não teve outro beijo depois daquele. Andávamos de mãos dadas. Jogávamos queimada no mesmo time. Ele emprestava-me o carrinho de rolimã em troca do meu skate. E, em seu ato mais cavalheiresco, não mirava meu rosto quando fazíamos guerra de mamona.

Engraçado, parece que até hoje é assim. Eles provocam,  resmungam e fazem grosserias. Quando vêem o tanto que nos magoam, catam uma florzinha no canteiro e nos entregam com olhinhos cheios de culpa e remorso.

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