terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As pessoas-formiga

São só dois passos para cair no abismo.

Vertigem.

As pessoas-formiga vagueiam sem saber onde ir. Olho de cima, com meu olhar de Deus-Todo-Poderoso, como se soubesse da vida. Como se tivesse certezas além da morte. Olho além do horizonte.

Sem dor. Sem grandes dramas. Só o tédio a me rodear. Nele me perco. Até não saber nada. Até desaparecer.

As pessoas-formiga dormem. Aguardam um novo dia. As pessoas-formiga acordam, trabalham, comem e dormem de novo.

As pessoas-formiga vivem? Não. Arrastam-se pelos dias enquanto a vida acontece sem que elas percebam.

As pessoas-formiga conhecem as leis e as obedecem. As pessoas-formiga criam as regras. Mas nunca, nunca mesmo, as desrespeitam. As pessoas-formiga tem objetivos definidos e não descansam antes de os alcançarem.

As pessoas-formiga não ultrapassam limites.

As pessoas-formiga comem sem sentir fome. Dormem sem sentir sono. Vivem sem sentirem-se vivas. E morrem sem deixar marcas. Desprezam as sensações. Valorizam a realidade. As pessoas-formiga são práticas e concretas.

- O que é abstrato?
Pergunta a pessoa-formiga.

Silêncio.
Não há resposta.

As pessoas-formiga desconhecem o vazio. Não entendem as dinâmicas complexas da vida. As pessoas-formiga não têm anseios. Não devaneiam. Não se desesperam. E não são tragadas por um mar de inquietações.

Só as pessoas-formiga são felizes.

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