quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Nem cinco minutos guardados

Não te pedi muito mais do que cinco minutos. Você negou. Assim como negou atenção, carinho e dedicação durante todo o tempo em que estivemos juntos. Sobrevivi de migalhas de amor. Igual aos pombos da praça que catam farelos de pão no chão. Dia a dia eu catava qualquer resto de sentimento que você jogasse fora.

Um esboço de sorriso. Mesmo que não fosse pra mim. Fantasiava que era. Um beijo soprado. Uma palavra doce.

Mas a gente é feito de carne. De osso. De anseios. De ímpetos de egoísmo e pequenos momentos de compaixão. De intenções. Às vezes, más intenções.

Instinto. A gente é puro instinto. E isso não é bom. Nem mau. É a realidade. É a necessidade de sobrepujar o outro. A necessidade de agradar o outro. É tudo isso, cara!

E, de repente, passa um tempo e você nem se reconhece mais. É o cotidiano que te engole. Num dia você é aquela figura interessante e todos os caras te olham. No outro, você está beijando os pés de um babaca que esquece teu aniversário e justifica dizendo que datas são importantes apenas para os professores de história.

E você olha pra trás e tenta entender como chegou nesse ponto. E não consegue sair do limbo. Porque se acostumou ao limo. É sórdido, mas real. É rastejar na lama mantendo seu saco de suprimentos amarrado ao corpo sem saber Como é!*

Então você culpa o outro. Mas a culpa está refletida no espelho. Quem erra? O dominador ou o dominado? O opressor ou o oprimido?

Aí você fecha os olhos e repete pra si mesmo. Baixinho. Deitado em sua cama. O mantra do Mestre. Que seja doce!** E acredita que será. Crê piamente que amanhã será um dia melhor. Porque cresceu escutando que dias melhores virão e que o amanhã à Deus pertence. E mãe, você sabe, não mente.

Um dia as migalhas ficam escassas. Nesse dia, você percebe que não sobrevive mais sem elas. Para, então, de esperar que elas caiam pelo chão e começa a implorar por elas. Num completo estado de mendicância afetiva.

Em total desespero, em estado de abandono, beirando a inanição, brada num ato de rebeldia. Pede cinco minutos. Apenas cinco minutos. Recebe, neste momento, o silêncio final. De um alguém que não possui nem a hombridade de te dizer tchau. Mas que você daria a vida para ter novamente. Mesmo que fosse por cinco minutos.

* Samuel Beckett
** Os dragões não conhecem o paraíso - Caio Fernando Abreu

Um comentário:

Unknown disse...

Eu, como professor de história, não gosto de datas. Justamente pq as práticas, as devoções, as emoções, os carinhos, as trocas, até mesmo o ego, são diários. Um aniversário é somente uma marca maior, um outdoor bem grande, de que naquele dia tal pessoa agiu como age sempre.
E se mendigamos atenção no nosso aniversário, a ponto de não percebermos todos os votos que nos chegam, as lembranças, o erguer de mãos... é porque no dia a dia estamos entregues à mesma migalha, ao mesmo vício, aos mesmos 5 minutos que gostaríamos de receber...