sábado, 10 de dezembro de 2011

A medida da dor

O sangue ainda escorria pelas paredes quando se levantou e começou a limpar o chão. Dessa vez foi pior. Não perdoou nem a televisão! Cinquenta polegadas de caquinhos estilhaçados no chão. Na rua. Ele deveria entrar em um time de arremesso de coisas ou algo do gênero. E se alguém estivesse passando na rua? Era processo na certa!  

Havia se abaixado. A TV gigante passou por cima da sua cabeça, atingiu o parapeito da janela e, por fim, voou do apartamento. Ainda bem que ele sempre teve péssima pontaria.      

Olhou-se no espelho para conferir o estrago. Briga de homem mesmo. Faltava um dente. O olho iria ficar roxo, preto talvez. Sem grandes estragos. Dessa vez, levou mais do que bateu! Casa revirada. Parecia assalto.

Arrumou o que dava. A empregada termina isso amanhã. Fez curativo na mão. Mordida, vê se pode! Limpou o olho. Não tomou banho. Dormiu na sala. A gente se acerta assim que ele voltar. Ele sempre volta!      

Do outro lado da cidade, um homem leva pontos no rosto, em um hospital decadente. Ao menos o enfermeiro é bonito.       

- O seu plantão termina muito tarde?
- Não, você vai ser meu último paciente.
- Um drink?
- Assim?
- Não tá doendo.
- Tem certeza?
- Se precisar, você cuida de mim.

O enfermeiro sorriu. Passou a mão pelos cabelos. Titubeou um pouco, mas cedeu.

- Pode ser.

Isso vai doer muito mais do que meia-dúzia de pontos no rosto. Muito mais!         

Nenhum comentário: