terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A salada da cizânia

Quando ela disse que iria introduzir legumes variados no cardápio para balancear a alimentação, eu ri. Explicou detalhadamente a intenção de adquirir hábitos saudáveis. Discursava como se tivesse decorado o texto de uma revista de dietas. Enquanto eu gargalhava pensando em cenoura, pepino, chuchu.

Introduz cenouras no seu dia a dia, que tal? Não resisti! Abobrinha, berinjela, aipim... São bem saudáveis, não acha? Aquele rostinho angelical, ar pudico de menina retraída, séria. Completamente séria. Até sisuda, às vezes. E eu, pura sacanagem.

Pesquisei no Google: legumes com formato fálico. Ia fazer uma colagem, colocar moldura e dar de presente. Ela adorava contar pros amigos que conhecia um artista plástico. Acabei desistindo. Achei over. Tipo de coisa que não precisa, sabe?

Nos conhecemos há dois anos atrás. Pela Internet. Sala de bate-papo. O grupo discutia filosofia, teosofia ou qualquer "sofia" dessas. Ela era a mais fervorosa. Se fosse um debate, gritaria, com certeza. Acredito, inclusive, que chegaria às vias de fato se fosse necessário. Só pra provar que estava certa. Teimosa, mas eloquente.

Conversamos por quase um ano e meio até que ela topasse um café. Ô moça custosa, meu avô diria. Queria desistir, mas quando via aquelas saias retas abaixo do joelho, blusa de botões fechada até o pescoço, cabelos presos... Ah, quando via esse conjunto se aproximando de mim, ficava completamente louco. Suspirava cada vez que minha jovenzinha surgia.

Tentei beijar. Não quis. Pedi em namoro. Rejeitou. Nem pegar na mão ela deixou! Três anos transcorridos e nada. Aí vem com esse papo de legumes? Eu tinha que rir mesmo. Ela entendeu. Ficou magoada. Nunca mais falou comigo. Vez ou outra aparece no Msn. Sempre ocupada.

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