sábado, 6 de julho de 2013

Momentos

X

Liguei pra lhe dizer:  - Olá, como vai? Para ouvir sua voz sempre educada, firme, responder: - Bem, muito obrigado. Nem queria saber da sua vida ou das novidades em seu trabalho, apenas me fazer presente.

Você foi o assunto da manhã. Desmancharam-se em elogios. Fiquei toda orgulhosa e com algum ciúme. Permaneci em silêncio, mas senti saudades.

Lembrei-me do seu jeito doce incentivando-me a falar mais e mais sobre meus planos mirabolantes para conquistar o mundo. Lembrei-me dos seus olhos que, quando pousavam nos meus, pareciam sorrir. Lembrei-me do silêncio constrangedor quando nossas mãos se tocaram, quase sem querer, e sabíamos que não podíamos.

O telefone chamou por diversas vezes até não tocar mais. Ficou mudo assim como você ficou quando lhe pedi pra não gostar de mim do jeito que eu gostava de você.

Foi aí que percebi que você já havia se despedido há muito tempo. Entendi a distância, a ausência. Sofri com certo atraso e o que não tinha nexo fez sentido.

O rádio que toca dentro da minha cabeça sintonizou uma estação brega que executava canções de amor com finais tristes. O locutor contava histórias de desamor dos ouvintes e mandava mensagens de apoio,  perseverança.

Será que se condoeria ao ouvir a minha? Ou simplesmente diria que é uma questão hídrica? Mania de fazer tempestade em copo d’água.

Pudesse eu desligar esse rádio, pensei, enquanto ouvia Ana Carolina perguntar mais uma vez em qual rua a minha vida vai encostar na tua.

Mas não. Não é possível desligar nada. Só sentir. Até esquecer. Até emudecer.

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