segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Nunca!

Examinou a sala minuciosamente sem notar qualquer vestígio dos acontecimentos daquela tarde.

Já vai tarde, pensou.

Os encontros fortuitos haviam tornado-se, há muito, desgastados. A antiga paixão dera lugar a algo insípido, sem propósito, nexo ou relevância.

Afastou as almofadas com as costas da mão e deixou-se cair preguiçosamente no sofá. Mal a taça de vinho acabara, resvalou num sono profundo e justo.

Com gosto de guarda-chuva na boca, viu-se, às quatro da manhã, bebendo suco direto da embalagem, numa cozinha iluminada apenas pela pequena lâmpada da geladeira, que permanecia aberta enquanto a sede era saciada.

Passou a mão nos cabelos, admirou seu reflexo no espelho, riu. Enfim, foi pra cama. Ainda com um sorriso nos lábios, adormeceu novamente. 

Antes disso, um pensamento: não me caso.

Não. 
Não me caso.
Nunca!

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