segunda-feira, 11 de maio de 2015

Janelas

Da janela do meu quarto vejo apenas neve. Essa paisagem branca, monótona, cansativa. Não diviso onde começa ou termina. É um longo tapete intocado. Abro o restante das cortinas. A claridade quase me cega.

Na sala tem um balcão. Ou varanda? Enfim, ele dá para uma ruela movimentada. Cheia de cheiros e sons. Gente esquisita anda nas ruas. E grita.

Observo o ir e vir dos comerciantes, dos transeuntes sempre apressados. Tudo tão caótico. Parece ser uma feira. Faltam crianças. Talvez estejam na escola ou dormindo.

Não que eu goste do barulho que fazem. Mas estão por toda parte. Não há como evitar. Não sinto falta de crianças. Apenas admiro o fato de não estarem presentes ali.

Sento-me à escrivaninha para recomeçar a carta. O vinho da noite anterior permaneceu no copo. Continua frio. As palavras que povoam minha mente fogem à mínima intenção de pegar a caneta. Bebo. O papel segue incólume.

Estou só. Incrivelmente só. A casa está fria e vazia. Embriagado, esqueço-me da perda. Levanto-me e volto ao balcão. A rua, agora, está parada. Talvez almocem. Talvez tenham mais o que fazer.

Sirvo-me de mais uma taça. Volto, mais uma vez, à carta...

Caro amigo,

Sinto muito ter de escrever-lhe esta carta, mas preciso que você perceba a urgência deste assunto para mim. Por diversas vezes tentei lhe contatar, mas você não retornou.

Somos amigos de longa data e sempre lhe considerei uma ótima companhia, além de um homem de integridade. Seria uma pena se viéssemos a ter desavenças por causa disso e, para mim, a única explicação é você ainda não ter percebido como o assunto é importante para mim.

Entendo que deva estar feliz com sua nova esposa. Não me oponho ao seu relacionamento de forma alguma. Afinal, o meu já vinha desgastado há tempo. Peço-lhe, apenas, que devolva-me o cachorro, pois sem este não consigo ficar.

Dê lembranças a ela. Diga-lhe que não guardo mágoas. Só quero o que me importa.

Por favor, escreva

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