segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Desaguando

A chuva choveu em mim. Num dia desses, qualquer, de solidão e de calma. Molhou meu rosto, meu corpo e atingiu a alma.

Preencheu meus espaços vagos com pingos de possibilidades. Fez-me embebida em esperanças.

Assim, chovida, andei descalça pelas ruas. Acreditando ser água, chovi também. Ensopei quem me seguia. Molhei de alegria aqueles que observavam. Pinguei felicidade. E fui água.

E enquanto era água, era completa. Não por ter companhia. Pois ao me sentir água, a chuva cessou. Mas por pertencer. Era gota em oceano.

Por fim, sequei de tanto desaguar. Mas a chuva tornou a chover em mim. Disse-me que pertencia à ela. Também ao céu, à terra, ao ar e ao mar.

Choveu tanto, tanto, tanto que me desfiz. Virei chuva então. Dissipei minhas gotas displicentemente. Espalhei minha água até evaporar.

Gotas de alma caem nos mortais. Uns choram, outros sorriem. Mal sabem que a chuva é feita de almas.

Dessas que se encantam de tanto amar sem saber. Dessas que se transformam para compartilhar. Dessas que morrem para permitir a sobrevivência alheia.

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