terça-feira, 3 de setembro de 2013

Saudades

Ontem dancei sozinha em casa até às quatro da manhã. Foi ótimo. Ritual de banimento, sabe? Pra espantar o que estava dando errado.

Lembrei de quando fazíamos isso juntas. Eu era tão pequena. Você me pegava pelos braços e rodopiávamos pela sala até cairmos exaustas no chão. 

Naqueles dias você ainda não tinha sido acometida pelo cansaço e pela doença, então brincávamos até amanhecer. A sombra da morte não nos espreitava.

Era o tempo em que pensava que você duraria para sempre. Ou mais um pouco. Não sei. Acho que nem pensava nisso.

Então você se foi. Deixou-me sozinha. Partiu antes de me ensinar a me maquiar, me vestir e me comportar como mocinha.

Não teve tempo de me explicar como seriam os meninos, a vida e as escolhas. Não disse que de onde vem o riso, também viriam lágrimas.

Restou essa lembrança. Essa lembrança que não é real, mas poderia ser...