domingo, 6 de outubro de 2013

Pisando em Pantufas

Meu pai morreu cedo. Ou nos abandonou. Não sei. Mamãe nunca foi clara sobre isso. Criou-nos sozinha e nos ensinou a dar valor ao que tínhamos. Tentou, ao menos. Mulher dura, fria, impassível. Mas, também, generosa. Ela é difícil, mas tem bom coração. Essa é a frase que mais se ouve quando falamos dela.

Não fui uma criança agitada. Até desconfiaram que eu era autista nos primeiros anos. Vivia em meu mundo. Até hoje vivo um pouco isolada. Depois de um certo tempo tornei-me mais sociável. Fazia amigos facilmente e, da mesma forma, os abandonava. Relações interpessoais não são o meu dom nesta vida.

Adolescência normal. Normal demais. Todos os problemas, as dúvidas e as brigas que qualquer adolescente tem. Não tive o modelo americano da família feliz, tampouco um trauma devastador.

Nada explica essa tristeza, esse vazio, esse medo. Desconfiança perene de tudo e de todos. Nunca conseguir externar o que realmente sinto. Insegurança eterna. Não saber onde pisar, nem como pisar.

Por isso, evito a vida. Piso em pantufas. Escolho, todos os dias, não me arriscar. Não sofrer. Não tentar. Calço minhas pantufas para não deixar marcas no mundo.

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