sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Tem esse quadro na parede que me causa calafrios. O corpo de um lado e a cabeça do outro. Uma bruma os liga. Algo tênue e ao mesmo tempo lúgubre.

Nos dias em que assisto filmes de suspense ou terror, cubro-o com um pano. Ou deixo a luz da sala acesa. Ou os dois.

Não sei a causa do pânico. Medo da própria pintura ou de me ver na situação da pintura.

O quadro é muito, muito antigo. Não se vê a assinatura. Desconhecido. Talvez isso acentue a inquietação que ele me causa.

Não há sangue. Não há dilaceração do corpo. O corpo, na verdade, é uma estátua. Ainda assim, é macabro.

O fundo é escuro. Esverdeado, talvez. Estranho, com certeza. A moldura está rachada e faz uma boa composição, dando um ar mais sinistro.

Os olhos me perseguem onde quer que eu esteja. Se vou do quarto pra cozinha, da cozinha pra sala, eles estão lá. Mesmo quando me sento à mesa, para bebericar, observar as frivolidades cotidianas das redes sociais ou escrever algo inútil que nunca será lido, os olhos estão lá. Pousam em mim sem nunca distraírem-se.

Sempre tive pavor dessa imagem. Tantos quadros bonitos guardados e esse na parede. Por quê?

Não. Não há quadro nenhum na parede.
Apenas a minha imaginação me pregando peças.

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