sábado, 4 de agosto de 2012

Surpresas

Ligação no meio da noite sempre traz algo inesperado. Na maioria das vezes desagradável, mas como saber, sem atendê-la?

- Sério? A gente não se vê faz tanto tempo que nem lembro mais do seu rosto. Vou pegar uma foto e fazer aqueles envelhecimentos no computador, pro caso de não te reconhecer quando chegar no aeroporto. Tô meio sem jeito, sem saber o que dizer, o que fazer. Acho que perdi o mojo, sabe?
- Não é por aí, meu bem. Eu estou com saudades, você também. Vai dar tudo certo. Acredite!

21h. Em pé no saguão. Segurando a fotografia com as mãos trêmulas. Não, ele não foi meu grande amor. Não foi o maior dos meus casos e nem o abraço que eu nunca esqueci. Teve um papel importante em determinado momento na minha vida. É especial ainda. Carinho. Acho que é isso.

Ele chega com meia-hora de atraso. Uma barriga muito maior do que a esperada. Menos cabelos. O mesmo andar. O mesmo olhar. E o jeito canalha que sempre me divertiu.

Algumas horas depois e somos os mesmos de antes, mas melhores. Sem crises. Sem cobranças Sem grandes dramas. Se houvesse um concurso de noite perfeita, essa seria imbatível, pensei. Mas Murphy não perdoa ninguém.

- Meu bem, eu tenho que ir.
- Ahn?
- É. Tenho que ir embora.
- Você viaja seis horas de avião até aqui pra me ver e não vai nem passar a noite?
- É que... - pra ser sincero - eu não vim te ver. Tinha uma conexão mais longa e te liguei pra matar o tempo.

Surpresa...
Nem sempre tão doce quanto o chocolate.

Um comentário:

Unknown disse...

Anticlímax.
Já me bati com vários canalhas, mas esse! Espero que seja e nunca saia do plano da ficção!