segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Infância

Os meus pés tortinhos ali plantados no chão, sujos de terra, enquanto o mundo acontecia à minha volta. Era só eu e os meus pés tortinhos, cheios de calos e dedos esquisitos.

Enquanto a mãe se esgoelava me chamando pra almoçar, ficava ali, plantado na terra. Tal qual árvore, me enraizando, achando que era assim que se crescia.

Perdido nas horas. Vagueando de um pensamento a outro. Via a menina mais bonita da classe me sorrir um sorriso lindo e dançar comigo no bailinho. O pai, elogiava meu boletim cheio de orgulho. A vó fazia geléia só pra mim.

Nada de ruim podia acontecer. Não ali. Naquele lugar não existia palmada, choro. Ninguém ralhava com o outro. Os meus irmãos brincavam num canto e gargalhavam. Tão sujos quanto eu, envolvidos na terra, na magia, no sonho.

E quando escurecia, íamos todos para casa contar as aventuras do dia. O pai e a mãe riam sem censura. Indagavam sobre as excursões, cavernas e monstros que enfrentáramos. Emocionavam-se com as lutas e regozijavam-se com as vitórias.

Assim era o quintal de casa. A terra. As plantas. Os perigos e os esconderijos. Aquele quintal abrigava tudo. Inclusive eu e os meus pés tortinhos.

Um comentário:

Fausto disse...

Minha infância... tirando a parte do calo nos dedos, claro! =D