segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O tio do farol

Tem esse cara que fica o dia inteiro em pé no farol vendendo balas. Ele chega perto do carro, pergunta como estou e me abençoa. Aí eu tenho certeza que o dia vai ser bom. Às vezes, o sinal abre antes dele chegar no carro, ou ele não me vê. Nesses dias tenho maus presságios.

Quando temos mais tempo, quer saber se caí da cama ao passar mais cedo. Pergunta se tive algum problema nos dias em que me atraso. Diz que estou sumida quando volto das férias.

Vende balas e sorri. Pega minha mão e me abençoa. E é só isso.

Pensei, então, em comprar as balas para ajudar. Ele, agora, me dá balas. Não aceita meu dinheiro. Joga as balas dentro do carro, sorri e diz: Deus te abençoe, minha filha. Simples assim.

Resolvi fazer doações. Roupas. Cesta básica. Cada mês algo diferente. Ele agradeceu.

Não durou muito. Voltei a rotina. Esqueci. Ele continua sorrindo e me abençoando.

E hoje, perdida em devaneios de consumo, imaginando viagens, mobília cara e toda sorte de aparelhos eletrônicos de última geração, parei e lembrei dele. Fiquei pequena, envergonhada. Difícil encarar a própria mesquinhez.

Agora, enquanto dou de cara com minha sovinice e tento imaginar uma forma de me retratar com o Universo, ele deve estar colocando os filhos na cama, sorrindo e dizendo Deus te abençoe.

Nenhum comentário: