quinta-feira, 30 de abril de 2015

Mulher Invisível

Nunca pensei em mim mesma como uma pessoa comum.

Talvez por ter apreendido o significado da palavra "medíocre" muito cedo. Ou então, para chamar atenção. Pode ser, também, personalidade. Mas desde que adquiri consciência individual, procuro ser diferente.

Eu disse di-fe-ren-te. O que não é sinônimo de estranha. Pende pra original, autêntico, ok?

Pois bem, até os meus quarenta e poucos anos isso não foi muito difícil. Na turma, tinha as melhores ideias. Os projetos mais interessantes. As roupas, confesso, exageradas ou... esquisitas.

Funcionava bem. Mas, de repente, a fórmula perdeu o efeito. Fui de Sensação da Festa à Mulher Invisível num piscar de olhos.

Acordei uma manhã, escovei os dentes, tomei café e saí para o trabalho. Estava no elevador quando percebi. Um senhor entrou, virou-se de costas e tentou ocupar o mesmo espaço que eu.

- Desculpe-me, não a vi.

Como não? Eu estava sozinha no elevador!

Depois desse episódio, comecei a reparar mais nas situações coletivas. Esbarrões, desencontros. Nenhum olhar nos bares e boates da cidade cruzava o meu.

Incrível!

Notei que estava mesmo desaparecendo. Fiquei triste a princípio. Mas logo em seguida, a epifania: Sou livre! Não existo! Ninguém me vê! Essa sensação é impagável, maravilhosa, fantástica. Já estava até me acostumando ao meu novo modo de vida quando me trouxeram pra cá.

Vestiram-me com uma blusa de mangas compridas, amarradas atrás. Nada fashion, muito limitadora, eu diria.

Avisaram que eu não podia sair daquele jeito na rua. Era contra a Lei. Tentei argumentar. Expliquei que minha roupa era invisível, assim como eu.

Não entenderam.

Parece que a magia acabou do mesmo jeito que começou.

Nenhum comentário: