quinta-feira, 28 de abril de 2011

Nexo?

Todas as boas crises já se foram. Restaram-nos, então, as ridículas. Apenas as crises ridículas. A pia molhada, o chinelo virado, a porta aberta do armário. Para onde foram os televisores jogados das janelas e os pulsos cortados?

Já não se grita mais como outrora gritamos. Junto com as boas crises foram-se as boas brigas.

- Não, senhora. Grito está em falta. Quer levar uma DR civilizada num restaurante francês?
- Passo.

O gosto misto de sangue e lágrimas dá lugar ao drops diet. Gosto de vida morna. Sexo sem suor. Correto. Calado. Sufocado. Quase morto. Entre quatro paredes. Velado.

O som que não saiu daquela boca aberta de onde se esperava o agudo final. O riso gasto acompanhado de um olhar de soslaio. De esguelha. Sim. Nossos olhares tão firmes, hoje, são de esguelha.

A personalidade que se esvaiu. A alma partida. Somos impressos de uma mesmice tola. Palavras formando textos que não se sustentam. Textos facilmente esquecidos. Esquecidos também são os nomes, as fisionomias, as pessoas. Até não restar lembrança alguma do que fomos um dia.

A repetição marcada de uma ação. A mente exaurida. A mente vazia. Preparação eterna para o momento que não chegará porque findou antes de ser iniciado.

E a tela volta a ser branca.
Talvez tenhamos alguma esperança. 

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