sexta-feira, 15 de abril de 2011

Procura-se um cavalo

      
Quem fala demais dá bom dia a cavalos. Eu não dou bom dia à cavalo, mas por pura falta de cavalo.* 
E na ausência do bicho, cometo sincerocídios. Desde pequena sou dada a ataques de sinceridade. Às vezes minha mãe me alertava: Não grita Mentira!, menina. Diga: Não foi bem assim que aconteceu. Eu achava graça. Às vezes até obedecia.

Aprendi cedo que a verdade deve ser dita. Só não aprendi que não é necessário contar todas as verdades de sua vida de uma vez só para qualquer pessoa que se aproxime. Então se alguém pergunta: tudo bem? Ah, coitado! É melhor que eu esteja bem, senão a ladainha começa.

Aliás, começava. É isso! Esse ano me propus - como jogo - cercear a língua. Restrinjo-me a responder exatamente o que perguntam ou, ao menos, tento fazer isso.

Não sei se tem dado muito certo.  Já cometi uns bons sincerocídios. Alguns tiveram conserto, outros nem me atrevo a pensar.

A amiga G frisa: Vê se tu não vai responder 10 toneladas quando te perguntarem 100 gramas! Eu tento, eu tento. E esqueço. E abro minha vida ao menor convite. E falo. Falo muito. Falo mais que o homem da cobra. E continuo à procura do cavalo. Quando encontrá-lo, direi:
- Bom dia!

* Mulheres (im)possíveis


  

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