sábado, 3 de novembro de 2012

Momentos

IV

Acordei no meio da noite com uma ventania daquelas. As cortinas, rebeldes, voavam até a cama e voltavam à parede num movimento frenético digno de filme de terror.

Levantei para avaliar o estrago. A sala estava alagada. Tive coragem apenas de fechar as janelas impedindo que o apartamento se transformasse em um aquário. Dormi novamente enquanto rezava pro mundo parar e eu poder descer.

Tenho estado aflita. Doente. Cansada. Repito padrões antigos que já não me servem mais.

Enfim, amanheceu. Deitei em cima do despertador, abafei o som e continuei em estado letárgico. Duas horas depois abandonei a cama. Aflita. Doente. Cansada.

Peguei balde, pano e rodo. Rosnei mal-humorada. Sequei o piso. Lavei o pano e guardei o resto. Tive pena de mim mesma. Várias vezes. Autocomiseração tornou-se a companheira inseparável de todas as horas.

Tenho estado aflita. Doente. Cansada. Repito padrões antigos que já não me servem mais.

Chuva e dias frio-cinza provocam-me reflexões. Devo confessar que nem sempre profundas. Pensei na vida. Na rotina. Em tudo que está por fazer. Fiz listas.

Compras de supermercado, coisas a consertar, atitudes saudáveis que devem ser adotadas, palavras que gosto, pessoas que já namorei, erros comuns de ortografia, mazelas que me acometem.

Tenho estado aflita. Doente. Cansada. Repito padrões antigos que já não me servem mais.

Lavei as louças do café. Tomei banho. Coloquei outro pijama. Voltei pra cama. Num intervalo entre uma coisa e outra liguei para o trabalho.

- Não posso ir hoje!
- O que você tem?
- Tenho estado aflita, doente, cansada. Repito padrões...

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