terça-feira, 20 de março de 2012

Um canto de adeus

O que (se) foi é (s)ido, disse Arnaldo Antunes. E não há sofrimento maior no mundo do que esse causado por um adeus. O adeus da morte. Da saúde. Da juventude. De um amor. O adeus que se dá às ilusões quando se descobre estar vivendo uma mentira.

Adeus estraçalha a gente. Palavra simples. Interjeição. Substantivo masculino. Duas sílabas. Imenso poder de destruição. Saber que o que se foi não volta mais.

Adeus dilacera a alma. Adeus é morte em vida!

A pele que perde o viço. As gengivas que encolhem e expõem as raízes dos dentes. A dificuldade em executar tarefas antes tão corriqueiras. Não me reconhecer no espelho. O tempo que leva silenciosamente minha juventude. Inexorável. Aliado do adeus.

Adeus trágico que marca a proximidade do fim quando só me restam pústulas, caroços e toda sorte de anomalias com nomes estranhíssimos que sequer me arrisco a pronunciar.

A lágrima que insiste em brotar nesses olhos já cansados de tanto chorar. A saudade que imprime um sinal indelével em quem ficou. Adeus definitivo e maldito que me separa no tempo e espaço de alguém querido.

Adeus doloroso que revela, sem piedade, aquilo que me recuso a entender. Adeus irremediável que traduz de forma perfeita toda e qualquer frase iniciada com “Nunca mais”.

Nunca mais o cheiro. Nunca mais o abraço. Nunca mais o riso. Nunca. Nunca. Nunca mais… Nada!

Adeus cruel que leva o amor e ressuscita a solidão. Mata as faceiras ilusões de felicidade sem fim. Aniquila a inocência. Dá vazão ao sombrio. Igual a morte, anda lado a lado ao nunca mais. Nunca mais doído que poderia não existir.

Adeus incerto que me separa para sempre do ser almejado, sem que para sempre ele tenha partido. Adeus que não deveria existir. Que, quisera eu, fosse sublimado. Adeus ardiloso que vem e, na minha história, coloca um ponto final.

2 comentários:

Unknown disse...

Esse daí ficaria melhor no fundo preto. Ao menos, não deste adeus à capacidade de sentir. Embora, às vezes, desejemos exatamente isso!

Carolina Vianna disse...

Ou finjo que sinto. Invento. E crio fantasias. E personagens de mim mesma.