domingo, 13 de março de 2011

Domínio da Mente

            
Eu estou aqui tentando não pensar em você porque eu disse que poderia viver muito bem sem a sua presença na minha vida. Agora não quero passar por mentirosa pra mim mesma. Então navego na internet, coloco um filme, pego um livro. Não me concentro em nada, apenas em tentar não te ver cada vez que fecho os olhos. Vou até a cozinha e abro a geladeira. Faço isso 30 vezes, como se fosse um ritual. Como se em algum momento você fosse sair de dentro da geladeira me pedindo pra reconsiderar.

O que eu te diria? Ah, eu diria que quando estou de cabeça quente só falo bobagens, que por trás dessa aparência de mulher durona tem uma menina frágil querendo colo, diria pra esquecer. Essas coisas, sabe?  Daí eu sairia correndo, pularia nos seus braços e a gente se beijaria. Um beijo de filme. Ou o beijo da foto. É. Aquela que eu gosto do marinheiro com a enfermeira no fim da Segunda Guerra.

E mais quarenta minutos se passaram sem que eu conseguisse tirar você da cabeça. Controle, foco, disciplina. De novo. Valendo. Televisão é maçante. Escolho livro. Poesia. Isso, a alma precisa de poesia. Pausa para banheiro. Nota mental: poesia não é boa companhia para esquecer um amor. Autoajuda talvez. Esses eu só leio em casa, sozinha. Tenho vergonha de ler na frente dos outros. Você ria tanto das minhas vergonhas. Me apertava como se fosse uma criança e ria de jogar a cabeça pra trás. Aí eu perdia a vergonha, lembra?

Quase consegui. Dessa vez passei de uma hora. Quem sabe se eu rasgar as suas fotos, suas cartas. Talvez isso ajude a apagar as memórias. Daí até esquecer de vez é um pulo. Quase automático, imagino. Deve funcionar. É isso. Vou rasgar, queimar, dar um fim nas provas físicas da sua existência. Agora! Não, agora não. Daqui a pouco. Agora vou lá na cozinha pegar uma água.

Nem passou pela minha cabeça a ideia de te procurar na geladeira. Só quero água mesmo.
     

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