terça-feira, 10 de dezembro de 2013

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O rapaz, por quem tenho leve apreço e venho declarando amor ultra-romântico, disse-me não. Um “não” categórico daqueles que não deixa pairar uma dúvida sequer. Sem explicações ou justificativas, apenas “não”.

Por quê?, pensei. Mas não muito, pois sei bem o porquê. No entanto, não significa que me conformei. Resolvi, então, demonstrar que a decisão dele havia sido precipitada, afinal, não me conhece tão bem e pode vir a se arrepender de ter me dispensado, assim, facilmente.

O que é amor próprio? Algo completamente desconhecido no meu Universo, não é mesmo?

Dado que o rapaz é pragmático, nada melhor do que uma explicação técnica, com fundamentação teórica, embasada em alguma estatística. Posto isto, enumero:

1 – Bom humor

Sou de riso fácil. Acho graça da vida. Aprendi a rir de mim mesma. Não sei contar piadas, isso é verdade, mas transformo minhas próprias histórias em esquetes de stand-up e em 95% do tempo (olha a estatística!) estou de bom humor.

2 – Refinamento

Sei me comportar, tanto no boteco, quanto na festa de gala. Visto-me bem, sei expressar-me com clareza e, quase nunca, envergonho o alheio. Tenho bons modos, como diria a minha avó. Uso-os, às vezes. Prefiro não revelar essa estatística.

3 – Ingenuidade

Creio. Creio. E creio. Acredito em tudo que me dizem, denotando, até, puerilidade. Talvez, patetice. Não tenho malícia. Não perdi a inocência. Beira o ridículo, visto que já passei dos trinta, mas ao mesmo tempo, pode ser encantador.

4 – Criatividade

No trabalho, no lazer, no ócio, na vida. Sempre criativa. 100% criativa! Dada às artes. Fotografia, teatro, literatura (ainda que chinfrim) e malabarismos na repartição.

5 – Resiliência

Mantenho o equilíbrio emocional. Passo por um arco-íris de emoções e sentimentos, porém torno à condição original em tempo módico. Sem exigir do alheio. Preciso, apenas, de uma boa noite de sono.

6 – Cachinhos grisalhos

Dignos e lindos! Não dá pra dizer mais nada sobre isso. Quem já viu, entende.

Depois de criar a lista, mostrei para o rapaz por quem tenho leve apreço e venho declarando amor além da vida. Ele riu. Disse que eram excelentes qualidades e que qualquer pessoa que me conhecesse encantaria-se comigo. Sugeriu, inclusive, que eu arrumasse um namorado, afirmando que gostava muito de mim e queria ver-me feliz.

Chorei copiosamente por vários dias. Sofri de verdade. Encontrei-o, novamente, dois meses depois, em uma festa de família. Família dele, que fique registrado. O seu irmão, meu atual namorado, nos apresentou. Eu quis rir, mas ele permaneceu sério.

Nunca mais falou comigo.

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