quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ainda lembro


Verdinha e com folhas reluzentes. Frondosa. Sombra a quem precisava descansar. Flores a perfumar o caminho. Frutos não. Nunca deu frutos.

Nunca parei pra pensar nisso.

Se ela me deixou a dor,
É minha só, não é de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó
Eu tenho a minha dor
Se ela preferiu ficar sozinha,
Ou já tem um outro bem
Se ela me deixou,
A dor é minha,
A dor é de quem tem...

Começou quando as flores murcharam. Depois foram as folhas. Caíram uma a uma, até não sobrar nada. De longe se via o tronco retorcido. Ela estava seca. Ainda assim em pé. Ainda assim imponente.

Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra, cavada no coração
Resignado e mudo, no compasso da desilusão

Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão



À primeira vista, causava um impacto... nada positivo. Aos poucos o olhar se acomodava e tornava-se agradável.

(ou invisível, nunca parei para pensar nisso também)

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois que eu me encontrar

Voltou a ter folhas. Flores. Frutos não. Nem frondosa. Sombra não. Nem perfume. Não se recuperou. Ela era a sombra. A sombra de um passado.

Não vergou.
Não morreu.
Transformou-se.

Se não fosse árvore seria bicho. Se fosse bicho, seria a borboleta invertida que começa voando colorida e termina estática, verde e gosmenta, grudada em um tronco retorcido de uma árvore seca.

Bem que se quis
Depois de tudo
Ainda ser feliz
Mas já não há
Caminhos pra voltar
E o quê, que a vida fez
Da nossa vida?

Ainda assim, o tronco - seco e retorcido - parecia mais forte. Firme.

Não sei.
Também não pensei nisso.

Parecia velho. O mais velho de todos os troncos velhos, secos e retorcidos. Ela parecia saber todas as coisas que as árvores devem saber. Se houvesse um jardim ou qualquer vegetação em volta, aquela árvore semi-seca, daria conselhos às jovens plantinhas.

Mas não havia nada.
Nunca houve.

Ela nasceu num círculo de terra delimitado por concreto.






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