terça-feira, 7 de junho de 2011

Uma nova vida, pensou, enquanto calçava os sapatos já atrasada para o trabalho. A mãe ligava pela sétima vez em dois dias. Isso é hora de ligar? Coisa boa não pode ser! Deixou a ligação para a caixa postal.

Olhou a pia cheia de louças sujas com um certo remorso e saiu. Esqueceu a chave do carro, voltou. Voltou mais três vezes antes de sair definitivamente. Por que isso só acontece quando já estou atrasada? Atrasada... 

O trânsito sempre a levava a divagações. Horas parada dentro do carro. Fazia a maquiagem e pensava. Ouvia uma música e pensava. Ajeitava o cabelo e pensava. Imaginava mil conversas, resolvia as questões mais complexas do trabalho e ainda sobrava um tempo para rir das piadas inventadas. De repente, o susto, a lembrança. Uma nova vida.

Subiu os quatro lances de escada a contragosto. Por que não consertam logo esse elevador? Achou trabalho atrasado em sua mesa. As gavetas transbordavam de processos e petições. Às vezes, colocava os papéis para tomar sol em cima do arquivo. Aquilo lhe dava uma sensação tremenda de produtividade. Gavetas vazias. No fim do dia voltavam todos pro mesmo lugar, mas ela se sentia mais ativa.

Naquele dia não. Naquele dia as gavetas ficariam trancadas até às seis horas. Até o escritório ficar completamente vazio.

Almoço com as amigas. Colegas seria um termo melhor. Tantos assuntos, tanta energia desperdiçada e nenhuma atenção dispensada de sua parte. Estava aérea, disseram. Estava mesmo, mas não concordou. Nunca concordava com nada. Não gostava de concordar. Mais assuntos e gritinhos estridentes.

Num certo momento resolveu se pronunciar. Como mulher fala alto, não é? Voltaram-se contra ela e o que estava ruim ficou pior. Foram trinta minutos se desculpando e se esquivando de perguntas inconvenientes. Mulher fala alto, é enxerida e tem voz irritante. Dessa vez só pensou.

De volta ao trabalho, mais quatro - intermináveis - horas. Uma vida nova? Tentou ater-se às tarefas rotineiras, mas ainda assim o tempo não passava. Os olhos corriam da tela do computador para o relógio a cada cinco minutos.

Enfim, às 17:45, quinze minutos antes do esperado chega a mensagem. Ao menos uma coisa na minha vida está adiantada! Riu. Abriu o e-mail já imaginando toda a mudança que aquela mensagem representaria em sua vida. Fechou os olhos, não queria ler. Espiou. Não conseguiu ver. Respirou fundo. E, finalmente, leu.

Resultado inconclusivo. Favor repetir em 48h.