segunda-feira, 11 de julho de 2011

Crônicas de Pouco Amor

Escritas ao sabor de Guinness 
numa noite onde esquecer 
um grande amor não era um desejo 
mas uma necessidade

III

- Você é tão bonita. Tem namorado?
- Não.

Ele sorriu e deixou a sala. Voltou com o receituário. Prescreveu anti-inflamatório, repouso e fisioterapia. Pediu-me que retornasse em quinze dias para tirar o gesso.

Tão simpático, elegante, charmoso. Quase me atirei das escadas do prédio pra quebrar mais alguma coisa e voltar logo à clínica. Resisti bravamente aos impulsos.

Ele mesmo tirou o gesso. Fez, também, a primeira sessão de fisioterapia.

- Você não é médico?
- Sim.
- Isso não deveria ser feito por fisioterapeuta? Ou você também tem essa formação?

Ele riu. Entrelaçou os dedos nos meus, moveu minha mão devagar olhando nos meus olhos e perguntou baixinho:

- Ainda dói?

Respondi que sim. Mentira deslavada. Manha. Charme puro! Ele beijou meu pulso, sorriu novamente.

- Volte em dois dias, no mesmo horário.

Levei duas horas pra me arrumar. Minha mãe buzinava na garagem enquanto eu ainda me maquiava.

- Vai pra uma festa, mocinha?
- Não é porque estou doente que tenho que sair de casa maltrapilha.

Mães! Mães são mulheres que esqueceram o que é o amor. Só sabem reclamar da vida.

Dr. Roberto estava viajando. Fui atendida pela fisioterapeuta da clínica. Velha, chata e rabugenta. Olhou-me de cima a baixo. Implicou com minha roupa e maquiagem. Fez amizade com a minha mãe e ainda falou mal do Dr. Roberto. Era só o que me faltava!

- Ele é residente aqui, mas pensa que pode fazer tudo!

Pode sim, pensei, ele é médico.

Não vi o Dr. Roberto por duas semanas. Férias. Isso é hora? Faltavam duas sessões quando nos encontramos de novo. Perguntou do braço. Respondi que doía muito. Ele pegou meu pulso e quase chorei. Fiz um teatro tão convincente que ele engessou outra vez.

Assim, prolonguei por mais um mês as visitas ao médico charmoso. Mais anti-inflamatório, repouso e fisioterapia.

Na última sessão, despistei minha mãe e fui sozinha. Ele estava na porta da clínica.

- Chegou cedo. A Zuleide está em horário de almoço.
- Tenho prova hoje à tarde. Você pode me atender?

Ai meu Deus. Mais uma mentira e eu vou pro inferno! Vou sim, com certeza.

- Posso, claro, sala cinco. Vou passar no meu consultório antes, mas você pode ir direto pra lá.
- Não preciso ir à recepção antes?
- Não, eu pego sua ficha e registro a sessão.
- Ok.

Achei estranho. Só tinha uma maca na sala. Entendi depois. Foi a tarde mais linda da minha vida. Nunca tinha imaginado que seria assim.

Um mês depois veio o pânico. Liguei pro Beto desesperada, sem saber o que fazer.

- Minha mãe vai me matar quando descobrir!
- Calma, ela não precisa saber.
- Como assim?

Fomos pra Faculdade de Medicina. Um amigo dele sabia o que fazer. Ele disse que era melhor assim. Não precisaríamos pagar nada. E essas coisas custam caro.

Depois que terminou, comprou um lanche do Mc Donalds e me deixou em casa. Beijou minha testa.
Prometeu ligar.

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