segunda-feira, 11 de julho de 2011

Crônicas de Pouco Amor

Escritas ao sabor de Guinness 
numa noite onde esquecer 
um grande amor não era um desejo 
mas uma necessidade

II

Desde a primeira noite o papo rolou solto. Ficaram amigos logo de cara. Jogo de futebol, dia das bruxas, domingo de chuva. Qualquer coisa era motivo para um encontro.

Conversavam sobre artes, política, banalidades. Falavam mal dos outros, deles mesmos. Contavam casos sobre os ex em discussões filosófico-psicanalíticas intermináveis.

Ele já havia sido casado, mas ainda era jovem. Não tinha esperanças em relação ao amor. Não queria se envolver. Estava convicto.

Ela colecionava pequenas desilusões, mas não desistia. Havia passado de um relacionamento a outro desde a adolescência até o início da idade adulta. Não sabia estar sozinha. Também não sabia o que era amor.

De repente, a quebra. Algo diferente no olhar.

Os olhos dela eram os maiores, mais brilhantes e mais expressivos que ele jamais vira.

Ela só tinha olhos para ele.

Ele se apaixonou por aqueles olhos.

Os seus olhos, ela disse, são tão tristes. Ele chorou. E relutou por meses até reconhecer o sentimento.

Ela se jogou de corpo e alma. Se declarou, pediu, implorou. Foi determinada e insistente. Ele, por fim, cedeu.

Almas gêmeas. Assim eram chamados.

Aquele namoro parecia ter saído das páginas de um romance. Cenas de cinema materializavam-se no cotidiano.

Amanheciam os dias na rua. Bebiam e caíam juntos. Amavam-se loucamente em qualquer lugar. Riam sem saber do quê. Viajavam de férias e já dividiam as datas comemorativas entre as famílias.

Casal perfeito, declaravam os amigos.

No Natal, ela ganhou uma chave e um anel. Ele ganhou o sorriso mais sincero que poderia existir. A data foi marcada. Os dias voavam. Preparativos mil. A festa seria de arromba. Ela só pensava na lua-de-mel.

Então, a falha trágica. Na véspera do enlace, uma despedida de solteira. O castelo cor-de-rosa ruiu. Ela não teve pulso. Casou-se assim mesmo. Seis longos meses foi o que durou.

- Desculpe-me, não consegui.

Foi o que ele disse, ao devolvê-la para a casa dos pais. Ela, dez quilos mais magra, braços cortados, cabeça baixa.

Um olhar vago que perdura até hoje.

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