terça-feira, 8 de novembro de 2011

Não provoque!

É cor de rosa choque. No salto e nas unhas. Cabelo volumoso. Ar decidido. Pisa no chão sabendo que o mundo lhe pertence.

- Você deveria se chamar Perdição!

Riu jogando a cabeça pra trás. Tentou encontrar algum sobrenome que combinasse. Müller, talvez. Deu de ombros. Continuou seu caminho. Flertando aqui e acolá.

Uma mulher de pequenos vícios. Nada que afetasse as obrigações cotidianas. Poucos prazeres muito bem aproveitados.

Bebida? Dois tipos. Jogo? Pôquer, sedução e charme. A técnica é a mesma. Saber blefar. Não mentir. Desenvolver maestria na omissão.

Casada, é claro! Mulher que não casa, depois dos 35, tem seu valor de mercado reduzido! Machista, sem sombra de dúvidas. Nunca foi pudica, mas discreta. O que dizer? Nada! Envolta em mistério. Sonho de muitos. Realidade de poucos.

Quis filhos. Não conseguiu. Comprou cachorro. Plantas. Livros. Discos. E tudo que preenche o dia. Foi pouco.

Férias sabáticas. Inventou cursos. Aprendeu a viajar. Definiu temas. Cada mês uma palavra. Não saiu da primeira: desprendimento.

Conheceu o mundo. Segurança em casa. Aventura na rua. Cada cidade uma letra. Cada letra um moço. Cada moço uma história. Viveu outras vidas.

Cansou no M. Retornou ao lar. Sentiu-se cativa. Faltou ar.

Na aula de culinária, conheceu Georgette. Mudaram-se para a Tailândia. Aquietou a alma. Na cabeceira da cama, um quadro. Foto clichê. Costas nuas, mãos dadas, pôr do sol. Logo abaixo, os dizeres:

Há mistérios na alma feminina que só as mulheres são capazes de compreender.

Nenhum comentário: