segunda-feira, 30 de maio de 2011

iThink

Aeroporto cheio, avião atrasado e um grande grupo de pessoas sozinhas. Sozinhas em seus pequenos mundos, fechadas em suas diversões solitárias, sem ouvir o grande mundo, sem enxergar a sua volta. Pessoas com fones de ouvido. Cada vez mais vejo essa cena se repetir. Vejo-a em restaurantes, em salas de espera, shoppings, ônibus, metrô, nas ruas e, até mesmo, no trabalho.

Numa realidade onde as pessoas convivem sempre menos em função de adventos como home-office, grupos de trabalho virtuais, vídeoconferências e etc., soma-se o fone de ouvido para contribuir, e muito, com o isolamento humano.

Uma cena. 

Entro no avião para sentar-me na poltrona do meio, as duas outras já ocupadas. Indico meu assento. Um dos passageiros se levanta, o outro limita-se a sorrir. Um sorriso econômico, visto que estava entretido com seus fones de ouvido. Sento-me entre os dois mudos que escutam qualquer coisa vinda de seus iAparatos Modernos. Digo boa noite, não sei para quem, mas digo.

Pego um livro, folheio sem paciência e resolvo começar a escrever. Não me demoro tanto na tentativa da escrita, pois um dos mudos resolve ler o que estou escrevendo e, juro, sou tímida. Depois de uns três ou quatro parágrafos desisto de vez e começo a assistir um filme. Pego, então, os meus fones de ouvido. O mudo decide parar de prestar atenção no seu iAparelho para olhar o meu iFilme. Viro a tela pra ele e recebo um novo sorriso educado. Hora de desligar todos os iAparelhos. Minha vez de sorrir educadamente. O mudo ganha voz.

Conversamos um pouco. Eu volto para casa, ele vem a trabalho. Pergunta o que faço. Não dou detalhes. Pergunta o que escrevo. Descrevo de forma sucinta. O mudo, então, revela total interesse nos meus interesses, mas é tarde demais. O avião já pousou e devemos seguir a vida.

Ele coloca, novamente, seus fones de ouvido e segue escutando as coisas do iAparelho. Eu penso no quanto estamos perdendo o contato em função desses malditos fones de ouvido.

Não sei se sou única nessa característica, mas tenho disposição para a conversa. E sinto falta de contato com gente diversa. Sinto falta de saber de outros mundos. E vejo cada vez menos portas abertas. Vejo janelas fechadas com gente do outro lado do vidro, usando fones de ouvido.

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