sábado, 21 de maio de 2011

Vadiagem nunca foi o meu forte, não. Comecei agora. Aliás, estou tentando começar. Nunca tinha ficado assim, sem emprego, sem amarras. Tenho reservas sim. E medo. Medo do que está por vir. Estou ficando velho, sabe? Não tenho mais aquela autoconfiança.

A mulher foi embora. Os filhos não ligam tanto. Eles pedem dinheiro, o carro emprestado, mas não querem mais meus conselhos. Acho que me vêem como um fracassado. Casamento desfeito, agora desempregado. Não é bem a receita moderna do sucesso, né?

Não sei o que vou fazer ainda. Curtir um pouco talvez. Viajar e conhecer lugares novos. Na minha cabeça tenho um plano de conhecer o mundo. Fuga, segundo o meu terapeuta. Não vou pensar nisso agora, senão meto uma bala no meio da testa.

Não, não, brincadeira. É claro que eu estou bem. Isso é maneira de dizer, se fosse tirar minha vida mesmo, fazia com veneno. Cicuta. Só porque acho a palavra bonita. Imagina? Em todos os jornais: Morreu envenenado com cicuta. Ia dar uma manchete e tanto! O Soares ia morrer de inveja.

Não, não sou de desatinos e nem de grandes atos. Vou continuar vivendo minha vidinha, sonhando com viagens inesquecíveis e mortes noticiadas. Amanhã compro os classificados e vejo como me arrumo. É, vou procurar emprego. É o jeito.

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