segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pretensão

Comecei a escrever por necessidade. Sentia-me triste, angustiada, sufocada. Então escrevia. Palavras desconexas, textos longos, historinhas inventadas e, às vezes, poesias. Escrever, na minha vida, faz parte de um processo de cura. Cura da alma, dos anseios profundos, daquilo que não se diz.

Escrever é dizer e não dizer. É criar personagem pra viver aquilo que a gente tem vontade mas não tem coragem. Às vezes, é deixar a personagem sentir aquela dor e ficar bem quietinha, observando, pra entender como a personagem se vira na vida que a gente inventa pra ela.

Escrevo desde menina. Primeiro foram os diários cor-de-rosa, com chave, guardados no fundo da gaveta. Depois as agendas estufadas de papeizinhos, bilhetinhos e, é claro, o papel do bombom que ele deu. Época das canetinhas coloridas, com cheirinho. O meu mundo podia não ser tão colorido, mas a minha agenda era.

Depois disso, parti para a internet, no formato recém lançado, o Blog. Tive um, depois outro e mais outro. Por bastante tempo escrevi sob pseudônimo. Vergonha, timidez, medo do ridículo, não sei. Agora, mais de dez anos depois, recebo um convite para escrever para um site. Crônicas. Gostei. Gostei do formato, da periodicidade, de ter leitores. Gostei muito.

Assumidíssima na nova fase, mandava os textos com nome, breve descrição pessoal e foto. Fiz até divulgação na repartição. Fiquei tão empolgada que revelei a identidade no Blog e ainda fiz propaganda do endereço.

Então, no auge da felicidade, quase me intitulando escritora, escuto: você poderia escrever um livro de autoajuda. Não gostei. Sem juízo de valor sobre a qualidade dos textos, sem crítica, apenas não gostei. Quem sou eu pra ajudar alguém com os meus textos? O que sei eu da vida pra poder melhorar a vida dos outros?

Não, não é essa a minha pretensão.

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